Não deu outro assunto nos debates esportivos de ontem na TV: o VAR, prós e contras.
Havia unanimidade em torno da implantação do vídeo para por fim às mazelas do Planeta Bola (ao menos dentro das quatro linhas).
Seria o antídoto para os humanamente compreensíveis erros da arbitragem.
Tolerância zero para as injustiças.
Aumentaria a credibilidade do jogo jogado.
Discussões exacerbadas sobre lances decisivos, tal e qual censura, nunca mais.
Um belo e promissor cenário.
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Em sã consciência, ninguém poderia ser contra.
A tecnologia veio para ficar.
Correto?
Correto, só que não.
Desde ontem, após a anulação do gol do Manchester City aos 49 do segundo tempo, gol que eliminaria o Tottenham da Liga dos Campeões, a polêmica se generalizou entre comentaristas, torcedores e amantes do esporte-rei.
Uma chuva de argumentos contempla todos os gostos e perfis.
Aliás, bem à moda desses tenebrosos tempos, há os que amam. Há os que já odeiam e detonam.
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E há os que, como eu, não tem uma opinião fechada sobre o tema.
Mas, como é do meu feitio, ouso contar aqui uma historieta.
Deixo a conclusão por conta dos meus caros cinco ou seis leitores.
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Seguinte:
Quando completei 18 anos, os cinemas da cidade exibiam…
Barbarella, de Roger Vadim.
Santa coincidência!
A estonteante Jane Fonda fazia o papel de uma terráquea em pleno século 41. Era uma agente com a insignificante tarefa de salvar a Terra da ameaça de uma guerra interplanetária.
Finalmente, o Universo vivia um tempo de paz, mas uma força das trevas queria por fim a toda essa harmonia.
Acho que era assim o enredo ou, no mínimo, algo bem próximo a isso.
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Entre uma batalha e outra, a musa encontra um anjo cego, interpretado por um ator loiro, altão, de porte atlético e grandes asas.
Claro que a moça (que, como disse Ben Jor numa canção, ‘era uma terrestre pra frente’) trata de seduzir o bonitão na primeira oportunidade.
O anjo, por sua vez, topa a parada de muito bom grado. É anjo, mas não se faz de rogado e não está morto, diga-se. Porém, avisa que a transa futurista não tem nada a ver com o que a humanidade praticou durante séculos e séculos de atraso e tédio.
No novo tempo, a coisa toda é mais asséptica. Controlada. Instantânea.
Time is money, ok?
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Os parceiros tomam um comprimidinho (azul?) e se postam um de frente para o outro. Encostam a palma de uma das mãos, um na mão do outro, e trocam vibrações fantásticas.
Uau!!!
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Dá-se o primeiro ronde – e nossa heroína volta a si levinha, levinha.
Sempre cordial, o anjo faz aquela pergunta básica nessas horas – e que sempre foi básica desde que o mundo é mundo:
— Foi bom meu bem?
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Educada, Barbarella diz que sim.
Foi legal.
Empoderada que é, a moça toma a iniciativa e propõe uma segunda rodada.
Só que, desta vez, insiste ela, à moda antiga.
O anjo está entregue – e não tem como dizer não.
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O que se vê, então, nas cenas seguintes?
Penas e mais penas que voam da asa do dito cujo — aliás, nada mais é preciso mostrar para que a plateia entenda o que se passou.
Óbvio que, na flor da idade, morri de inveja.
Nunca fui santo.
Mas, me transfigurei em anjo naquela hora.
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Minutos depois os personagens reaparecem na tela.
É a vez de a moça fazer a célebre pergunta:
— E aí, anjão, gostou?
O ser alado mesmo cego parece ter visto estrelas.
Enquanto apruma o que restou das asas, não tem dúvida em afirmar:
— À moda antiga, reconheço, é muito melhor!!!
O que você acha?