Tinha a idade dos gêmeos Sam e Jennifer quando foi morar com os tios em São Paulo depois que os pais se separaram na Bahia.
Sempre viveu longe deles, só com raras notícias que lhe chegavam de quando em quando.
Sabia apenas que cada um seguiu o próprio rumo, constituíram novas famílias – e ela sobrou como um apêndice da vida de ambos.
Às vezes, o pai ligava e, mesmo de longe, surtava a querer lhe controlar os passos.
Depois, passava meses sem ligar.
Na casa dos tios, não a tratavam mal.
Não que fosse um estorvo. Mas, entendia que representava uma responsabilidade, um peso a mais para a modesta família em sua labuta diária.
Por isso, percebia o quanto cuidavam para que logo desse um rumo adequado à própria vida.
Desde cedo, portanto, descobriu-se só.
E nunca foi diferente. Mesmo quando namorou sério e para casar com Marcelo ou se envolveu com Pedro, aquele advogado falastrão, vinte anos mais velho, ou ainda ao se amarrar com Alfredo, vendedor e desquitado que queria, por toda a lei, que fosse morar com ele.
O emprego de recepcionista, o fim do curso na universidade pública, os amores destrambelhados. Foi mesmo um período tumultuado, em todos os sentidos.
Estava com Alfredo quando resolveu topar o desafio do intercâmbio.
Ele insistia para que mudasse de mala e cuia para o sobrado elegante em um bairro discreto da periferia de São Paulo. Teriam uma vida pacata e, na medida do possível, tranquila.
A receita parecia infalível.
Habituara-se a viver com pouco, quase nada – e ele era só atenção e carinho.
Não tinha do que reclamar.
Por fim, iria constituir uma família.
Marcelo era só um garoto e, com ele, viveu o primeiro grande amor. Foi bonito, e triste.
Pedro, ao contrário. Um desses canalhas que toda mulher precisa conhecer ao menos uma vez na vida. Divertido, imprevisível – e incontrolável.
Só aparecia quando lhe dava na telha, e com objetivos deliciosamente claros.
Alfredo, não. Sempre lhe pareceu o porto seguro.
* Amanhã continua…
** FOTO NO BLOG: Nova York (arquivo pessoal)