Em vista de tudo o que viveu e do que imaginava ainda estar por vir, Dona Yolanda cumpria o mesmo ritual todos os dias 13 de junho. Acendia três velas, num canto da cozinha. Uma para o Pai, outra para Nossa Senhora e a terceira para Santo Antônio.
Rezava pela família – as filhas, o filho, os netos, os bisnetos, a nora, o genro…
Rezava pelos que se foram.
Rezava por um mundo mais justo, onde as pessoas pudessem viver em paz.
— Nem vejo mais TV de tantas maldades que exibem.
Viver é tão mais simples, ensinava ela.
— Não entendo para que tanta aflição.
Houve tempo (eu era garoto) em que, neste dia, Dona Yolanda seguia para a igreja na Praça Patriarca. Assistia à missa e, ao final, aguardava as bênçãos do padre e recebia o pãozinho bento de Santo Antônio.
Em casa, o destino do pão era certo. Ia parar dentro da lata que guardava o açúcar. Assim o santo não só olharia por todos que ali moravam como lhes garantia alimento, saúde e prosperidade pelo resto do ano.
Desde então ela acredita piamente na força do santo. Que, no Brasil, tem fama de casamenteiro.
Lembro que as irmãs, quando meninas ainda, faziam uma “simpatia” para que o santo lhes arranjasse “um bom partido”.
Demorou um tantinho, mas o pedido foi atendido.
Fui à missa logo cedo. Reverenciar Santo Antônio e o primeiro 13 de junho que passo sem a
Dona Yolanda, sua grande devota.
Ah!, meu Santo Antônio, dai-me paciência. E outro tanto de prudência para seguir meus dias.
Olhe pela alma da mãe e cuide de nós. Amém.