Quarta, 19 horas. Entro na sala de aula para uma reunião com estudantes do último ano do curso de Jornalismo. Trabalho com eles o pré-projeto de um webdoc sobre “Missionários – O que os move…” (título provisório) que apresentarão, ao final do ano, como TCC. Conto com o auxílio luxuoso do professor Nicanor Lopes, diretor da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades e doutor em Ciências da Religião.
Ouço mais do que falo. Aprendo sobre o papel dos missionários ao longo do tempo. E saio da reunião quase duas horas depois bastante feliz, com o envolvimento das estudantes e a proposta que pretendem aprofundar. Tomara consigam…
Quando volto para minha mesa, vejo que os meus pares, os professores, os funcionários estão todos em um alvoroço só. Falam, gesticulam, riem, formam grupinhos aqui e ali.
– O que aconteceu, gente? Caiu balão, é?
Me olham e riem um riso que demonstra todo o espanto.
– Onde você andou? Veja isso…
E alguém me mostra, na tela do celular, o vídeo com o plantão do JN anunciando as bombásticas notícias do dia. A delação premiada dos irmãos Batista, proprietários da JBS.
– A casa caiu para o Temer e o Aécio, professor.
Ao reboque da nossa chegada, minha e do professor Nicanor, somos inteirados de teses e especulações sobre o que está acontecendo surgem nas rodas de conversa. Cada qual defende sua linha com muita propriedade e cheio de argumentos. Nada como o ambiente acadêmico para tantas e tamanhas perorações.
No meio do burburinho, o amigo Wander volta do jantar com a novidade:
– O William Bonner quase chama o Michel Temer de ex-presidente no Jornal Nacional, vocês viram?
A turma corre para perto do aparelho de TV.
O próprio Wander me provoca:
– É professor, quando o senhor entrou na sala o Brasil era um. Agora, é outro. Concorda?
(…)
Fico em silêncio. Tenho um bom tempo de estrada. O suficiente para tentar não me iludir. Estão defenestrando quem não mais lhes interessa. Há um longo e sinuoso caminho até que um outro Brasil, o Brasil de todos os brasileiros, justo e solidário, se erga dos escombros destes tristes tempos.