Vamos chamá-los de Pierrot e Columbina porque assim pede o momento.
(Os nomes reais pouco importam.)
Conheciam-se superficialmente.
Mas, havia uma coisa qualquer entre eles que nem sequer os próprios ousavam saber o que era.
Mas, era. Ninguém duvidava.
II.
Quem estivesse por perto enxergava logo.
Não arriscava fazer qualquer comentário. Porque nem Pierrot menos ainda a Colombina davam espaço para o zunzunzum.
Digamos que a folha pregressa de ambos era irretocável.
Ninguém apostaria que fosse possível acontecer, mesmo que os indícios – conversinhas, olhares, sorrisos – apontassem para o “sim, eu acredito”.
III.
O papo rápido desta sexta de Carnaval, logo depois do habitual “bom-dia, você chegou”, foi revelador.
Pierrot, imagino, tentou colocar o seu bloco na rua e deixou escapar uma perguntinha básica:
— Você anda arredia por esses dias. Tudo bem?
A resposta da Colombina não deixou dúvidas.
Foi esclarecedora:
– Tudo… Por que a pergunta? Não estou ‘escorregadia’, estou arredia. Gostou?
Diante do muxoxo do Pierrot, elazinha continuou, implacável:
— Arredia, sim. Que é a maneira de se evitar uma situação que não se sustenta, que não é estável e, assim, evitar escorregadelas e afins. Entendeu?
IV.
Pierrot balançou a cabeça, e sorriu sem graça.
Não era exatamente a resposta que gostaria de ouvir.
Colombina também sorriu.
Os olhares se cruzaram, cúmplices, carinhosos.
Ele ficou ainda mais encantado.
Talvez numa próxima, pensou.
Entendeu que assim é a vida e assim são os amores.
Não lamentou.
Sairia no Bloco do Eu Sozinho, pois não era hora para tristezas e desenganos.
O que você acha?