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Histórias do Planeta Bola

Está em qualquer alfarrábio que trate da história do futebol, a seleção holandesa, a Laranja Mecânica, revolucionou taticamente o esporte a partir da Copa de 1974, na Alemanha.

Não levou – perdeu para a equipe anfitriã na final -, mas encantou o mundo – e ainda hoje é referência de futebol, magia e espetáculo em qualquer discussão que permeia o tal Planeta Bola.

Inclusive agora quando voltamos a discutir os porquês do argentino River Plate ser campeão da América e não um time brasileiro.

Nosso futebol está tão em baixa assim?

Não lembro exatamente a data.

Sei que estávamos próximo do Mundial de 78 (Argentina) ou seria de 82 (Espanha).

Sei que no planejamento para a cobertura de uma dessas copas, na velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor, as reuniões invariavelmente empacavam nas discussões similares às de hoje. Virara moda o debate sobre os tais sistemas táticos.

A questão central:

Vale mais a individualidade ou o jogo coletivo?

Quem é o maior responsável pelo sucesso ou fracasso dentro do campo de jogo. O jogador ou o técnico?

Argumentos, os há para qualquer um dos lados.

O Brasil poderia ter vencido a Holanda e desclassificado a sensação do Mundial, se não tivesse desperdiçado boas chances de marcar logo no primeiro tempo.

Ah, mas o jogo em equipe e a intensidade do Carrossel holandês se imporiam em algum momento da partida – alguém contrapunha.

– Ué, porque então não se impuseram diante da Alemanha e, posteriormente, da Argentina, nas duas finais que participaram?

Aí, a discussão voltava para a dúvida sobre quais reais protagonistas do jogo propriamente dito: os boleiros.

Faltou talento?

A estratégia foi equivocada?

Ou faltou equilíbrio emocional?

Vontade, empenho, determinação, punch, garra, espírito de vencedor, maturidade…

O caríssimo leitor pode de imaginar o quanto a conversa, que a todos envolvia, se espalhava num sem fim que, ouso dizer, ainda hoje anda por aí.

Num dia qualquer que se perdeu no tempo (mas ficou na lembrança), o bate-boca entre repórteres e amigos se estendeu até a lanchonete do Seu Oswaldo, famosa no bairro e em toda São Paulo pelo hambúrguer com molho único.

Fomos almoçar e, entre nacos de sanduíches, o tema não saía de nossas bocas.

Foi o próprio Seu Oswaldo que, por conta e risco, resolveu intervir.

– Por que vocês não entrevistam o Caetano De Domenico?  Ele mora aqui pertinho, na rua Silva Bueno, e foi um grande técnico de futebol.

E acrescentou:

– Foi ele quem inventou a “cerradinha”.

Só a título de ilustração e registro: Seu Oswaldo, Oswaldinho na mocidade, fora um hábil ponta esquerda do Juventus da Mooca e, além de degustarmos o saboroso x-salada que inventou, gostávamos de ouvir suas histórias sobre os primórdios do futebol em São Paulo.

O que era a tal “cerradinha”?

Era o jogo defensivo que, com o correr das décadas, recebeu várias designações – catenaccio, ferrolho suíço, retranca e, mais recentemente, ‘fechar a casinha’ – o tal jogo reativo que o idioma titês assim designou.

Não preciso dizer, mas digo: adivinhe, amável leitor, quem foi escalado para entrevistar o homem?

Sim, eu mesmo.

*Amanhã a gente continua…

(Ilustração: cartaz de divulgação do filme ‘Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick, de enorme sucesso à época e que originou o apelido ao selecionado holandês)
2 Responses
  • Simone Rodrigues
    7, janeiro, 2021

    Caetano de Domênico!

  • rodolfo
    7, janeiro, 2021

    Grato por seu comentário. Esclareço que obedeci a grafia original do nome do saudoso Caetano de Domenico. Não existe o acento circunflexo no idioma italiano.

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