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A esperança, o Mestre e a menina

Dia desses, registrei aqui as cerimônias
de colação de grau das turmas de jornalismo
da Universidade Metodista. O texto,
diria, veio com um tom nostálgico, pois
a meninada estava de partida para
novos desafios – e não mais, nós,
professores, poderíamos estar
presentes.

Hoje, porém, o ritual é de
festa pela chegada das novas turmas
– o que, em si, nos dá uma
alegria muito grande e traz
a inevitável responsabilidade de
preparar, nesses próximos
quatro anos, olhos, coração e mente
daqueles que farão o futuro acontecer.

Renova-se o desafio, pois.
A esperança bate à nossa porta…

II.

Para dar boas vindas aos que chegam
e promissora jornada àqueles que partem,
segue uma história de quando
eu era vocês…

III.

Era delicioso conviver com ele, na modesta
e então combativa redação de Gazeta do Ipiranga.

Veterano de outras paragens mais
famosas, como emissoras de TV e memoráveis
campanhas publicitárias, sabia contar
histórias que literalmente faziam
às nossas jovens cabeças.

Beiravam ao fantástico e, não raras vezes,
comentávamos às escondidas
que o Mestre exagerava.

Não era possível, não dava para
acreditar. “Mentira. Cascata” — alguém
sempre fazia questão de contestar.

Mas que ele tinha imaginação,
ah, isso ninguém discutia…

IV.

Aliás, todos adoravam essas verdadeiras
fábulas dos anos 60 e nos mostrávamos
receptivos aos novos “ensinamentos”.

Havia um imensurável carinho
entre o grupo e foi ótimo que assim
tenha sido. Mais tarde, sua ausência
provou a veracidade dos causos contados
e mais: ele sempre tinha razão.

Se bebêssemos mais daquela fonte,
seríamos hoje mais felizes.

V.

Uma coisa sempre me fascinou:
a forma como o Mestre sabia lidar
com a gente, moleques crescidos e prontos
a questioná-lo a todo o momento.

Seu irresistível — e quase sempre
implacável – senso de humor talvez
fosse o segredo. Não sei. Não posso afirmar…

Vejo hoje, tempos depois, o quanto
é essencial a virtude de conviver
harmoniosamente com o pessoal mais novo.
Até porque, cofiando minha rala barba grisalha,
entendo melhor uma de suas frases preferidas:

— O mundo é dessa moçada, que ri
de qualquer bobagem, dança qualquer música,
viaja sem marcar o bilhete da volta,
vira noite na bagunça e, horas depois,
está pronta para outras aventuras.
Não se queixa de dor alguma e enfrenta
qualquer desafio com a certeza
de que vai construir um futuro melhor.
Eles só precisam de um tantinho
de juízo para distinguir o certo
e o errado, o bem e o mal…

Portanto, gente, um bocadinho de juízo.
O resto, vocês tiram de letra…

VII.

Particularmente gostaria de ter o dom
do inesquecível amigo – mas, bato no peito
três vezes, deixo muito a desejar…

Por vezes, sou ranzinza. Em outras,
intransigente. Perdoar, me custa muito.
Esquecer, nem pensar. Enfim…

VIII.

— Estar vivo já é um milagre.
Estar vivo, com saúde e alguns
trocados no bolso é bom demais.

Valho-me de outra citação do Mestre
para levantar o astral da conversa
e, agora, exemplificar para aquela moça
de olhar perdido não-sei-onde
que desespero não é resposta
para nada nessa vida de meu Deus.

E mais: não combina nada com seus vinte
e poucos anos de morena brejeirice. Alguns
desatinos estão a lhe apoquentar a linda cabecinha.
E ela me parece sem rumo, num tempo
de chuvas e trovoadas – embora todos
queiram um lugar ao sol.

IX.

Não me cabe discutir suas razões.
Tem mais é que ir atrás dos sonhos
( palavra bonita, não?). Ademais, ela pode
errar e experimentar à vontade.

O tempo, compositor de destinos,
conspira a seu favor.

Principalmente se estampar o sorriso
luminoso que a faz ainda mais
encantadora e próxima, bem próxima,
dos seus belíssimos ideais.

X.

Abra o olho garota.
Desatino, acredite, não combina
com a sua mocidade. Sorria sempre.

Mesmo sem sapiência do saudoso Mestre,
repito seus ensinamentos e, olhe,
o que ele falou é a mais pura e cristalina verdade:

— O mundo é dessa moçada, que ri
de qualquer bobagem, dança qualquer música,
viaja sem marcar o bilhete da volta,
vira noite na bagunça e, horas depois,
está pronta para outras aventuras.
Não se queixa de dor alguma e enfrenta
qualquer desafio com a certeza
de que vai construir um futuro melhor.
Eles só precisam de um tantinho
de juízo para distinguir o certo
e o errado, o bem e o mal…

XI.

Portanto, menina, um bocadinho
de juízo – só isso o mundo vai lhe cobrar.

O resto é farelo.
Melhor deixar que o vento o carregue