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A heroína do Ipiranga

"Sonho que se sonha junto é realidade." (Raul Seixas)

01. Em algum dia de nossas vidas, certamente, já ouvimos a frase/canção do velho Raulzito e, posso lhe assegurar, não lhe demos a devida atenção, a importância que verdadeiramente tem para nós e para todo o mundo que nos cerca.

02. Eu a entendo como a "Imagine" brasileira. A canção de John Lennon, que ainda hoje toca nas rádios e emociona, propõe um mundo melhor pelo congraçamento de toda a raça humana. A de Raul, que quase nunca lembramos, nos traz o instrumento vital para realização desta corrente de fraternidade: o sonho, aquele que se sonha junto e se transforma em realidade… Na realidade que todos almejamos, mas que só nos damos conta que existe e é possível quando a vemos distante de nós; muitas vezes presa por um tênue fio de esperança, aquela que nunca morre e nos mantém vivos…

03. Em três ocasiões senti a plenitude desse verso. A primeira foi nos idos de 80, num congresso de jornalistas em Curitiba. Ao encerrar o encontro, quando o estado democrático era considerado uma utopia, o então arcebispo de Recife, Dom Helder Câmara, nos encheu de fé e encheu até a boca o cálice da esperança ao declamar a frase/canção. Todos acreditamos que a democracia não tardaria por vir… A outra ocasião foi há dois anos, na dedicatória do primeiro exemplar do meu livro "Às Margens Plácidas do Ipiranga". Foi um momento único, especial… A realização de um sonho, o reconhecimento a quem me ajudou a transformá-lo em realidade…

04. A terceira vez foi nesta semana ao receber a carta da leitora Alice Soares Ferreira. Uma carta que fala de Iara Iavelberg, a jovem de 27 anos que sacrificou-se para que este País um dia pudesse ser feliz.

05. Alice foi amiga de Iara, que nasceu no Ipiranga em 7 de maio de 1944, mais precisamente na rua Silva Bueno. Freqüentou as escolas do bairro. Formou-se no Alexandre de Gusmão e foi cursar Psicologia na Maria Antônia, a célebre rua de muitos entreveros estudantis durante a Ditadura Militar.

06. Como tantos outros jovens, não se conformando com o sufôco em que vivia o País, Iara e seu irmão, apelidado de Melo, ingressaram nos movimentos estudantis que se rebelavam contra o Golpe de 64 (…) No calor da luta, conheceu e uniu-se de coração ao capitão Lamarca (…) Sua última morada, antes de cair na clandestinidade, foi o predinho de apartamentos da Agostinho Gomes (…) No dia 20 de agosto de 1971, acossada pelos esbirros da ditadura, encontrou a morte em Salvador, Bahia. O Ipiranga já tem a sua heroína: Iara, a menina de olhos meigos e sorriso doce.

07. Tomara que a coragem — e a lembrança de Iara — nos ensine a transformar o sonho de todos nós numa grata realidade. Aliás, como preconizou Raul Seixas (os 10 anos de sua morte reverenciam-se domingo), aquele que nos ensinou a não ter aquela velha opinião formada sobre tudo.