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A santinha

Comentei com a amiga
que tem sido um belo desafio
escrever todos os dias
uma história diferente.

Às vezes, falta assunto.
Às vezes, falta tempo.
Às vezes, é a vontade
que vem a faltar.

Às vezes, falta tudo.
Aí, é brabeza.

Hoje, estou um pouco
muito assim…

II.

Essa amiga, aliás, já havia
me antecipado a dificuldade e
o trabalho que eu teria. Foi
no ano passado, quando lhe
disse da minha intenção
de criar um blog para dar
mais vida ao site que, diga-se,
andava paradinho, paradinho.

— Não sei, não. Dá trabalho.

Avisou-me a partir da
própria experiência como
repórter de jornal diário.

III.

Dia desses conversei com ela
sobre esse dilema. Tinha a vã
esperança que repetisse o alerta.

Confesso que estava com certa
preguiça de postar. Esperava
que me incentivasse a teclar
com menos assiduidade.

Mas, qual o quê. Vejam a sua resposta:

IV.

"Imagine! Você tem tantas histórias.
Tantas e tão bonitas. Vou dar
uma sugestão. Que tal a história
da santinha que chega na sua
casa todos os meses?

Repare que coisa bonita.

Há tanto o que pedir,
tanto para abençoar…

Vivemos dias tristes."

IV.

E continuou:

"Olha, quando você me falou
da imagem, fiquei pensando
em quantas casas ela já passou.
Eu que não sou católica
nem imagino o que se pode pedir
para uma santinha que
visitou tanta gente.

Isso dá uma história linda."

V.

Quis mudar de assunto,
mas ela fez que não me ouviu.

"Peça para santinha me ajudar
também. Pede-se marido
honesto para santa? Ou isso
é coisa só de Santo Antônio?

Bem eu queria um parceiro,
alguém leve que pudesse me
amar como sou. Envelheceríamos
juntos, sabe? Que gostasse de ficar
sonhando e tivesse preguiça
de acordar quando estivesse
comigo enrolado e me enrolando
em cada fio de um lençol
branquinho de algodão."

VI.

Fez uma expressão sonhadora,
mas logo voltou à Terra, mas
sem abrir mão do sonho.

"Pensando bem. Em tempos de
papa deve ser muito bom
ter uma santinha em casa."

VII.

Recado anotado, cara amiga.

Prometo que, da próxima vez que
a imagem de Nossa Senhora da Graça
passar pela minha casa, vou tocar
nesse assunto. Não garanto nada.
Pouco entendo dessas santíssimas
especialidades. Rezo todos os dias,
porém. Para diversos deles. Misturo
os pedidos e os agradecimentos.
Mas, penso que lá em cima
eles se entendem. E, olhe, não posso
me queixar. São generosos…

O que pedi e não veio, posso
lhe dizer, não fez falta nenhuma.

VIII.

Vou dar uma sondada sobre
o seu caso. Não me parece dos
mais difíceis. Vamos ver o que acontece…

Por enquanto, moça,
fique com um poema do Mauro Salles,
que reli ainda hoje no fim da tarde.
Não arranja marido, mas conforta
nesta noite vazia de domingo.

Chama-se Fidelidade.
Diz assim:

“Somos fiéis aos amores impossíveis
às vozes de ontem
às promessas de eternidade
à mão do companheiro
e ao olhar da amiga”.

IX.

Uma breve história.

Conheci uma moça que, num
final de ano, soltou o verbo com
Santo Antônio. Ameaçou deixar
a imagem do padroeiro de ponta
a cabeça enquanto não lhe arranjasse
um príncipe encantado. E assim o fez.

Parece que deu certo.

A moça casou antes que o novo
ano se tornasse ano velho.
É bem verdade que o rapaz
não era lá um príncipe.
Há quem diga até que
estava mais para ‘encantado’.
Em todo caso, casar ela casou.

Resumo da história:
Santo de cabeça para baixo só
pode mesmo fazer milagre às avessas.