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A voz do preconceito

Na fila do voto, observo meia-dúzia de crianças a correr pra lá e pra cá. Aproveitam o amplo espaço que oferece a velha escola estadual de um tradicional bairro paulistano. Não há porque recriminá-las. Divertem-se felizmente distante dos dossiês, mensalões, fotos da dinheirama etc.

Um dos garotos parece que cansou do ir-e-vir, e vem se enredar nas pernas do pai à minha frente. Faz uma carinha de quem quer sossegar. E aí é o pai que parece se entusiasmar:

— Aí, filhão, vai dar segundo turno, filhão…

O menino recupera o fôlego, faz cara de cientista político em debate de TV e arremata:

— Lula, não, né, pai… Lula, de novo, não…

Atrás de mim, ouço a voz do preconceito. Uma aristocrática senhora não perde a chance. E, sob a aprovação complascente dos ‘enfileirados’, diz logo o que pensa
e revela seu maior temor.

— Ah! meu bem (dirigindo-se ao garoto, mas falando a todos), não adianta nada. A gente aqui faz a nossa parte. Mas, lá em cima (leia-se Norte/Nordeste), eles elegem o homem. Não dá, né… Até quando?

Conclusão: o pseudo Brazil não conhece o verdadeiro Brasil.

Mais grave: não faz questão de conhecer.

E assim vamos para o segundo turno…

Há quem diga que de, denúncias em denúncias, não restará pedra sobre pedra.

Em uma guerra prolongada, não há vencedores. Todos perdem…