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Entrega em domicílio

Ainda na esteira do centenário de Vinicius de Moraes, quero lhes contar uma história. Eu a ouvi de Carlinhos Lyra há alguns muitos anos quando uma plêiade de músicos se apresentava no Olympia, em São Paulo; se não me engano, por ocasião dos 30 anos da bossa nova.

De alguma forma, todos ali haviam convivido com o Poetinha – e falavam dele com muita saudade.

Sentiam falta do jeito brincalhão e um tanto distraído de Vinicius que, em última análise, descontraía os bastidores de qualquer apresentação.

II.

Lyra lembrou que, na virada dos anos 60, Vinicius estava a mil. Inspiradíssimo. Compunha com vários autores ao mesmo tempo. Não rejeitava encomenda. Era só lhe enviar a melodia que, dias depois, lá estava a letra tão sonhada pelo parceiro.

O mais importante é que Vinicius tinha o dom da musicalidade. Quem ouvia aquelas canções depois de prontas logo imaginava que nasciam simultânea e naturalmente. Mas, esse encaixe perfeito – lembrou Lyra naquela tarde – devia-se única e exclusivamente ao talento imensurável de Vinicius como letrista.

III.

Só uma vez, Lyra disse ter encontrado problema para musicar os versos do Poetinha. Ele havia lhe encaminhado a melodia do que viria ser a tocante “Primavera”, mas quando recebeu os versos de Vinicius nada entendeu.

“Olha, que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela, menina, que vem
E que passa
Num doce balanço
A caminho do mar”

IV.

O músico embatucou.

Uma coisa não casava com a outra.

O que teria acontecido?

Vinicius teria perdido a mão?

V.

Perto dali, em outra casa, na mesma rua, Tom Jobim vivia o mesmo impasse.

Lia e relia os versos:

“O meu amor, sozinho
É assim como um jardim em flor
Só queria poder ir dizer a ela
Como é triste se sentir
Saudade”

Nada tinham a ver com os acordes saltitantes do clássico maior que viria a ser “Garota de Ipanema”.

VI.

Vinicius naquela tarde resolveu entregar em domicílio as encomendas da semana.

Aproveitou que ambos moravam na mesma rua.

Só que desatento que só trocou os destinatários.

VII.

Desfeito o equívoco, tudo se encaixou perfeitamente.

E a MPB e nós ganhamos canções definitivas…