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Envelheça!

Não é sempre, garanto.

Mas, há ocasiões – não sei precisar
quais, nem porquê – que basta
olhar no espelho para ver
o homem velho. As feições do meu pai.
O grisalho do cabelo do meu avô…

Aí, vem um tolo cansaço de tudo.
E tolamente dou razão aos comentários
de alguns tolos, jovens e tolos.
Quase sempre deste tipo:

— Ah!, professor, como poderia saber
que Jânio Quadros foi presidente
da República? Não era nascido
nessa época, pôxa…

II.

Lembro que uma vez – ainda
na Redação, nos anos 90 – pautei
uma promissora repórter para
entrevistar um dos ícones da MPB
da década de 70: Antônio Carlos Gomes
Belchior Fontenelle Fernandes.

— Belchior? Quem é Belchior?

A moça veio me perguntar com
a desfaçatez de quem nada sabe
sobre nada e, pior, nem quer saber.

— Um dos três reis magos, respondi,
sem esperanças de que dali saíria qualquer
reportagem ao menos razoável.

No que a distinta retrucou decidida…

— Afê, que pauta horrível.
Nem em época de Natal estamos.

III.

Talvez eu devesse ter explodido
como o escritor Nélson Rodrigues
explodiu ao ser procurado por
uma estudante de Letras. A moça veio
entrevistá-lo e lhe perguntou
como escrevia “histórias tão… tão… assim.”

Ela gostaria muito de aprender…

— Envelheça! – esbravejou
peremptório o notável escritor.

IV.

Envelhecer é o que nos cabe, aliás.

Outra opção é morrer.
Quem se habilita?

Apesar de que tenho visto tantas
moças e rapazes a cavar a própria
sepultura ainda em vida e, olha, mal
viraram a casa dos 20.

Não têm ambições consistentes, reais.
Contentam-se com folguedos e traquinagens.
Esquecem de dar um sentido para o dia-a-dia…

Acham que são capazes de ludibriar
a tudo e a todos, e acabam por enganarem
a si próprios – malandros e otários…

V.

Porque é inevitável…

O tempo nos espera na curva
do amanhã, onde o presente acontece
de repente e, quando vamos ver,
já se transformou em ontem…

Inapelavelmente ontem…

E aí só sobrevivem os que
remotamente são capazes de entender
o que ensinou o poeta Mário Quintana…

“Venho do fundo das Eras,
Quando o mundo mal nascia…
Sou tão antigo e tão novo
Como a luz de cada dia!”