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Eu não sou um poste

O presidente mandou avisar:

Ele não é um poste.

Meninos eu vi.

Foi numa entrevista que concedeu ontem na Espanha.

Havia vários repórteres a acompanhar as andanças do presidente. Inclusive, os das emissoras de TV brasileira. Falavam sobre a renovação da CPMF. Antes de ocupar o cargo ele e o seu partido eram contra. Hoje, estão a favor.

O presidente, como de hábito, foi sincero. Mudou de opinião.

Hoje, ele precisa da CPMF.

— São 40 bilhões de reais que fazem falta para os investimentos sociais.

Foi a desenvolver este pensamento que ele concluiu, bem à sua maneira, aliás:

— Eu sou um cidadão. Eu não sou um poste.

Fez-se silêncio entre os repórteres.

Assim como eu, imagino, eles também foram surpreendidos pela simplicidade do raciocínio do presidente. Como todos deveriam fazer, o presidente muda de opinião quando alguém, os fatos ou mesmo as circunstâncias lhe convencem de que estava errado.

Sei que pode parecer uma desculpa boba. Outra das tantas quantas que os governantes nos aprontam quando querem tomar uma medida impopular.Mas, eu a prefiro – por estar mais próxima da realidade – aos grandes tratados sociológicos que tentam nos convencer da superioridade quase divina dos senhores do Poder.

Mas, deixemos de prosopopéias políticas – que não é nossa praia –, pois não foram as tais que trouxeram a frase até este espaço. Como é notório aos que me lêem, tenho uma tendência a ficar imaginando coisas. Então, assim que ouvi o dito, fiquei pensando em quais outras situações vale tal argumentação. Ou se eu próprio alguma vez usei a expressão…

A princípio me ocorre, de tê-la ouvido ali, naquele bar da rua Greenfeld, onde os amigos do Nasci se reuniam para risos e lágrimas. Não sei se já registrei a história aqui. Mas, o certo é que a moça pintou e bordou com Geraldo que, por ela, morria de paixão. Um dia, ela fez que viria, mas não veio. No outro, também. No terceiro, soubemos que estava de rolo com um bicho-grilo. O amigo inconsolável. Triste pra caramba. Mas, firme. Não se moveu um milímetro para saber da ingrata. Passaram os dias – e, enfim, ela o procurou, cheia de dengos. Gê não resistiu. Quando nós, os amigos, soubemos, cobramos dele uma satisfação.

Aliás, nem sei direito porque cobramos, Gê estava todo satisfeito e feliz.

— Quando eu senti aquele perfume, olhei aquelas carnes, não resisti.

Todos balançaram a cabeça em sinal de desaprovação. Mas, o amigo Gê tinha a resposta na ponta da língua.

— Gente, vocês pensam que eu sou um poste?

Fez-se silêncio no bar daquela esquina, onde o Sacomã torcia o rabo…

No meu caso, não lembro se já soltei a célebre frase. É provável que tenha usado equivalências, do tipo “não sou de ferro” ou “só dói quando respiro” – uma variante mais poética, diria.

Mas, querem saber?

A frase do Lula me vem à mente todas as manhãs em que estou no elevador de serviço e entra aquela penca de senhoras, devidamente acompanhadas pelos respectivos ‘lulus’. Não é difícil supor que os bichinhos passaram a noite em seus cantos e agora – até pelas carinhas deles dá par perceber – é hora de…

Bem, vocês entendem e os saquinhos de plásticos nas mãos das madames não deixam dúvidas que são politicamente corretas. Mas, denunciam o motivo do passeio.

É nessa hora que olho bem para os ‘lindinhos’ e telepaticamente lhes digo:

— Eu não sou um poste. Eu não sou um poste.