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Sábado morno

Sobre o que conversaremos neste sábado morno…

Como assim? Não entenderam a pergunta?

É bem verdade que faltou o ponto de interrogação na primeira frase. Usei reticências e posso ter confundido a leitura de vocês. Dizem os Manuais de Redação que o uso de reticências é inadequado aos textos jornalísticos porque sugere imprecisão, um certo devanear. Ao contrário do grande filósofo contemporâneo Abelardo “Chacrinha” Barbosa, o jornalista existe – ao menos nos entendemos assim – para informar, esclarecer e não para complicar. Na lida diária de responder dezenas de emails, habituei-me a prática de ‘reticenciar’ – se me permitem o neologismo – e parece virou mesmo um vício…

Certamente por isso – e também pela falta de assunto, comecei do jeito que comecei. Cabe-me agora confessar a vocês que estamos à deriva. Não sei aonde esse alinhar de letrinhas vai parar.

Além do que postar e emeiar são da mesma família…

II.

Isto posto, conto a história do novo amigo que fiz. Apresentou-se assim:

— Me chamo Amparo. Mas, é só nome mesmo. Pois, na draga que eu ando, não amparo ninguém. Nem a mim mesmo. Moro de favor na casa do meu pai. Também fazer o quê? Foi ele quem me deu este nome.

Achei divertida a fala do homem, que vendia sapatos num Atacadão aqui perto de casa. Mas, não gostaria de estar na pele dele. Amparo, aliás, é nome de uma pacata cidade do interior de São Paulo, perto de Serra Negra. O pai quis prestar uma homenagem à terra natal, de onde veio e para onde nunca mais voltou.

Amparinho disse que não conhece e nem quer conhecer a cidade que lhe emprestou o nome. Então, defendi a escolha do pai.

— Poderia ser pior. Já imaginou se o seu pai nasce em Bananal?

— Pindamonhagaba, cara. Pindamonhagaba. Às vezes, tenho até pesadelos. Sonho que o pai nasceu lá e o vejo alegre e feliz indo para o cartório registrar o primeiro filho. Há um sorriso estanho na cara do velho. Ouço ele murmurar: "Pinda, meu garoto". Acordo mais desamparado do que já sou…

III.

Depois dessa, acho que poderia parar por aqui mesmo e dar por cumprida a missão. Dormi demais, quase o dia todo. Falta-me fôlego para uma história mais longa. Entendo, porém, que não seria sensato da minha parte abandonar à deriva meus três ou quatro leitores.

Aliás, este é um bom assunto para outro tópico.

A audiência do blog baixou consideravelmente. Andamos aí pelos arredores das 40 visitas diárias – e olhe que chegamos à casa das 100. Estava a me perguntar sobre a causa da debandada generalizada, quando um caro amigo, especialista em on-line, tratou de me confortar quando lhe disse da minha apreensão.

— O pessoal anda cansado dos blogs. Já não registram a mesma procura – salvo raríssimas exceções. Na net, é assim: tudo entra e sai de moda com muita facilidade. O momento é dos vídeos caseiros ou polêmicos. É a bolha do You Tube que logo logo explode e cede lugar a outra novidade.

IV.

Fazem sentido as ponderações. Eu mesmo não vou aos meus blogs preferidos há alguns dias ou semanas. De qualquer forma, ele me aconselhou a ‘hospedar’ meus textos num portal desses famosos, onde a visibilidade seria maior. Como conseqüência, haveria chance de um renovar constante de leitores por atingir um número considerável de internautas.

— Nesses grandes portais, só se fala em milhões de acessos pra cá, pra lá e pra acolá. Às vezes, as histórias se repetem e cansam — mesmo as boas como as que você escreve…

Ele foi generoso nos elogios, principalmente à minha disposição de diariamente cravar um texto novo.

Há que se dar o devido desconto às palavras do amigo, justamente por ser amigo. De resto, é torcer para que não leia esta crônica de hoje – ele ou algum responsável pelos tais portais. É bem provável que eu os decepcionaria com a minha falta de assunto.

Mas, convenhamos: para quem começou, reticente como eu, a divagar sobre as reticências da primeira frase, até que escrevi demais, não acham?

Êta, sábado morno…