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It’s a long way

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Foto: Rafael Strabelli/Instagran Espaço Unimed

Só mesmo Caetano Veloso para me tirar do aconchego do sacrossanto lar numa segunda-feira chuvosa, de trânsito intenso, e me destrambelhar de São Bernardo do Campo, onde me escondo, até o Espaço Unimed, em frente ao Memorial da América Latina, na Barra Funda, em São Paulo.

Só mesmo o genial e genioso cantor/compositor para que eu não me intimidasse diante perspectiva ameaçadora de ficar por quase duas horas em pé, sem ter onde se escorar, kiteralmente na pista, em meio à multidão de jovens de todas as idades, todos a cantar e dançar ao som de antigas canções.

Só mesmo o bom baiano para me fazer rever, depois de anos e anos, Jards Macaé e Ângela Roro (por onde andavam?) no mesmo palco.

Enfim…

Lá fui eu.

Um ato de coragem para um senhorzinho prestes a completar 73 anos.

Porém – e sempre existe um porém…

Amigos e leitores, sinto-me recompensado.

Tentarei aplacar as dores musculares que ontem e hoje ainda me acometem pela sensação inenarrável de ter assistido ao show de comemoração dos 50 anos do disco Transa que Caetano gravou em 1972 enquanto estava no exílio em Londres.

(Sim, ele fez os shows comemorativos no Rio e em São Paulo, com um ano de atraso. O disco de Caetano de 1973 -e o experimental Araça Azul.)

Transa é um álbum emblemático para a minha geração – e para nossa música popular. Um álbum repleto de canções-referências que, de alguma forma, embalaram o sonho utópico e libertário que nos eram mote e guia na efervescente década. Canções que hoje, para minha surpresa e júbilo, a turminha, digamos, mais inteirada e progressista, sabe de cor e canta a plenos pulmões.

It’s a long way, meus caros.

Então, como diz aquele conhecido verso de antanho, ‘tudo vale à pena, se a alma não é pequena’.

Vida longa aos sonhos e às utopias.

Um salve para Caetano desde sempre personagem à frente do seu tempo.

Notas de pé de página:

1 – Vale registrar que a palavra ‘transa’ à época não possuía a conotação, digamos, libidinosa que hoje tem. Era pouco usada. Tinha uma conotação de qualquer coisa.

2 – Uma historieta. Conta-se que, mesmo proscrito e em exílio em Londres, Caetano Veloso teve permissão para voltar ao Brasil para assistir à missa de bodas de 40 anos do casamento de seus pais Seu Zézinho e Dona Canô. Foi na Bahia, em 1971. Dias depois, já no Rio de Janeiro, por interferência de amigos, Caetano foi novamente interrogado sobre o suposto envolvimento com ações subversivas. Envolvimento que nunca existiu, regstre-se. Os homens concordaram com sua permanência no país, contanto que fizesse uma canção que elogiasse uma das obras mais caras ao regime militar: a rodovia Transamazônica. Caetano, por óbvio, não topou. Mas, de volta à capital da Inglaterra, gravou o sexto disco solo e, fina ironia, lhe deu o nome de Transa.

3 – Quem sou eu na fila do pão? Continuo, caros amigos, a me fazer quase diariamente o tal questionamento existencial. Permaneço sem resposta, à deriva.Faço uma ressalva, porém. Descobri algo q em meio ao labirinto sem fim do cercadinho que pretendia dar alguma ordem âs filas de entrada para o show de Caetano: em essência continuo o Rodolfo, jornalista e professor de jornalismo. Como se deu tal revelação? Explico: à moda calabresa, reclamei em voz alta por ter que caminhar sob a chuva fina por uns 100 metros ou mais até à portaria. Estou a vociferar quando ouço alguém chamar: “Rodolfo”. Deu ruim, pensei comigo mesmo. Não, deu bom. Era o ex-aluno e amigo Alexandre Nobesk que não vejo a tantos anos. Como me reconheceu se estava atrás dele? “Ah, ouvi a tua voz, e falei: é o Rodolfo”.Pois foi assim. O encontro durou algumas instantes, mas foi bem legal. Moral da história: meus cabelos continuam cada vez mais branoos e escassos, mas a minha voz… continua a mesma.

4 – Enfim – e por fim, registro meu agradecimento ao Filhão que organizou, garantiu e insistiu para que fossemos em família ao espetáculo. Foi um inesquecível presente de aniversário antecipado. Valeu!

Atualização

*In memorian de Lanny Gordin, notável guitarrista que participou ativamente dos primeiros tempos da Tropicália. Morreu ontem em São Paulo, aos 72 anos.

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