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Jair Rodrigues e Disparada

“Ali, no Festival de 1966, praticamente começou a minha carreira. Tudo o que havia lutado e estava esperando, aconteceu. Veja bem, eu vinha da noite, era um cantor da noite. Cantava de tudo, desde aquelas músicas fortes da época de Orlando Silva, Carlo Galhardo, Francisco Alves ao que pedisse a platéia. Tinha um repertório assim variado e vastíssimo que me garantia como cantor.

Quando fiz o meu primeiro sucesso em 1964, foi com “Deixa Isso Pra Lá”, que não exigia uma grande interpretação. “Deixa que digam, que pensem, que falem. Deixa isso pra lá, vem pra cá, o que é que tem. Eu não estou fazendo nada, você também…”

Então, ouvia da crítica que eu era cantor de uma música só, que não passaria daquilo.

Quem é que gosta de crítica?

Aceito uma crítica, mas quando é uma coisa verdadeira. Ali, eu sentia que não era.

Precisei provar o contrario. Afinal, queria ser considerado um interprete da música popular brasileira. Queria ouvir as pessoas falarem bem. Até que falavam. Mas, do Jair Rodrigues, menino extrovertido, o “Cachorrão”, sempre alegre e tal. Mas, na hora de me botar entre os da música popular, falavam que não tinha nada ver. Que era cantor de uma música só.

Quando me juntei a Elis para fazer o Fino da Bossa, pensei que ia mudar um pouco essa história. Mesmo assim, continuou. As glórias eram quase todas para Elis. Eu não passava de um partner, o que me deixava de pé quebrado.

Quando apareceu a música do Geraldo Vandré e do Théo de Barros, e o Solano Ribeiro me indicou como intérprete, aí o negócio mudou tudo. Lembro que veio alguém lá de cima (da TV Record) e disse:

— Crioulo, é a hora de mostrar o que sabe!

Vamos embora, respondi.

É uma das músicas mais difíceis de se cantar. Aí, sim, provei o que sabia e era capaz. E deu tudo certo. A partir daí, vivi uma fase muito bonita, de “liberou geral” em todos os setores da minha carreira. Por isso, até hoje, eu tenho a música “Disparada” como meu carro chefe.

Naquele ano, ainda a platéia não era agressiva. Não aconteciam vaias. Vinha de uma experiência, para mim, interessante. No Festival d 65, aina na TV Excelsior, cantei uma música chamada “Moça na Janela”, do saudoso compositor do Recife. Era um samba sem nenhuma pretensão. A música era bonita, mas não tinha força para um festival.Era só para participar. Se classificasse, tudo bem. Se não classificasse, tudo bem também. Só que ela não ficou entre as finalistas. Mas, a mim, me deu uma certa bagagem.

A bem da verdade, o festival da Excelsior foi todo meio assim. Uma experiência que tanto poderia dar certo ou não. Já o da Record foi feito com aquela parafernália toda. Sentiram o que a beleza que foi o festival da Excelsior e mandaram ver. A Record era a Globo da época. Entrou com tudo. Tanto é que esse festival da Record colheu músicas de todo o Brasil.

Não dá para negar o belo momento, digamos, cultural que o Brasil vivia. Parece que a gente era mais focada. A própria situação do país era – época de recessão – uma coisa fortíssima. Parece que os compositores se aplicavam mais. Davam tudo de si. Há muito tempo que a gente não vê uma música de sucesso como as de um Paulinho da Viola, um Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil. Nos anos 60, quando uma música era lançada, era um acontecimento. Havia todo um zum-zum-zum. Você ouviu a nova do Gil? Olha o que Chico disse na naquela música? E assim ia. Eram outros tempos…”

* (Depoimento em agosto de 2000)