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Jogai por nós

"Existe algo mais importante do que a lógica: é a imaginação" (Hitchcock)

01. Gostei muito da fala do técnico da seleção, Luiz Felipe Scolari, após a vitória sobre a Inglaterra na madrugada de sexta, dia 21. Ele falou que os brasileiros deveriam acreditar mais no Brasil, e não apenas no futebol: em todos os sentidos. Bom isso. Ver que na hora em que exarcebamos nosso sentido de brasilidade na mais importante competição esportiva do mundo, o artífice dessa vitoriosa jornada chama a atenção de que este é um País viável em todos os sentidos. E que, se nos dermos ao trabalho, poderemos reconstruir essa Nação que hoje anda em cacos pela inépcia dos governantes e políticos, sim. Mas também e principalmente pela letargia de uma sociedade que habituou-se ao deixa estar pra ver como é que fica.

02. Não estou, como muitos, a contar com os ovos da vitória antes do tempo. Sei que nossa seleção não é um time imbatível e a Alemanha é uma tradicionalíssima tricampeã mundial. Portanto, uma camisa de respeito. Ademais, essa foi uma Copa do futebol pragmático em detrimento do espetáculo. Mas escrevi acima que foi uma jornada vitoriosa porque assim considero a surpreendente campanha do "incrível exército brancaleônico" que Felipão levou à Coréia e ao Japão. Claro que todos queremos o penta, mas pelo que já fez e conquistou a seleção, desde já, só merece aplausos.

03. A seleção nos legou algumas lições preciosas. De solidariedade, por exemplo. Quando trabalhamos em grupo, o bem comum deve ser o objetivo de todos. Para isso, é que as individualidades convergem. Outra lição: a superação. O grupo saiu do Brasil absolutamente desacreditado, motivo de piadas dos jornais argentinos e descaso dos jogadores franceses, sem falar na execração pública dos próprios jornalistas brasileiros. Havia até uma campanha em prol do salvador da pátria, Romário. Até porque dois dos principais nomes da Família Scolari (como pejorativamente a Imprensa passou a chamar a seleção) estavam com sérios problemas físicos, Ronaldo e Rivaldo. O trabalho conjunto da equipe médica e dos fisicultores e a vontade dos atletas de participar dessa Copa foram fundamentais. Vale lembrar que esse pessoal todo está há dois meses longe de casa.

04. Foi fundamental a transparência com que os problemas foram tratados. E, neste ponto, destaca-se a humildade de se colocar na condição de aprendiz e pleiteante. Ronaldo Fenômeno, Rivaldo, Roberto Carlos e Cafu são jogadores reconhecidos internacionalmente. Não precisam provar mais nada a ninguém. Mesmo assim, enfrentaram as eliminatórias e o mundial com desprendimento e, não raras vezes, toleraram críticas e mais críticas com a certeza de quem está com a razão. O Cafu é bom exemplo. É o jogador que mais vezes vestiu a camisa da seleção brasileira. Foi campeão em todos os times que defendeu. São Paulo, Palmeiras e Roma. Faz neste domingo sua terceira final consecutiva de Copa do Mundo, proeza que nenhum outro atleta conseguiu na História do Futebol. Mesmo assim, é comum ouvir que ele só joga na seleção porque não apareceu outro…

05. Aliás, neste quesito humildade, e aqui um méa-culpa, a própria imprensa esportiva poderia aprender com os garotos da seleção. Muitos dos nossos mais ilustres cronistas poderiam agora vir a público e dizer: erramos todos os nossos prognósticos. Não entendemos nada de futebol. Prestamos um desserviço pois desinformamos vocês em nome do nosso clubismo, do nosso bairrismo, das nossas paixões. O exemplo mais notório dessa incompetência se deu no jogo de quarta. Durante o intervalo da partida, o ex-jogador Casagrande afirmou que Luizão deveria ter entrado no lugar de Ronaldinho. Afirmação que de pronto foi corroborada por Zagallo e Sérgio Noronha… Quatro minutos depois, o gol de puro talento de Ronaldinho entre três zagueiros e a retificação constrangida do boleiro:
o Felipão errou, mas acertou deixando Ronaldinho em campo.

06. Uma outra lição dessa turma é a de unir alegria com seriedade. A garotada se livra da pressão com rodas de pagode e axé músic, além de muitas brincadeiras. Uma cena na TV reverenciou a brasilidade e me cativou de vez. Roque Júnior e Ronaldinho Gaúcho dividiam o fone do mesmo walk-man e desceram do ônibus da delegação, depois do jogo, cantando e suingando "Espelho", do saudoso João Nogueira. São garotos de vinte e poucos anos, origem humilde e o peso de redimir uma Nação sofrida que ousa sonhar em ser o País do Futuro no presente. Um mora em Paris e outro em Millão, ruim né? Estavam ali brincando de ser feliz, lembrando o velho Nogueira e logo em seguida saudando o povo brasileiro no melhor estilo Zeca Pagodinho: "Deixa a vida me levar. Vida leva eu." É isso aí garotada, jogai por nós!!!