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Meio século de jornalismo (2)

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Foto: cena do filme Primeira Página, com Walter Matthau e Jack Lemmon/Divulgação

Tentarei ser breve na continuação deste relato.

Até porque, antecipo, foi breve minha passagem pelo Diário da Noite.

Durou pouco mais de uma semana.

Serei bem sincero.

Nossos santos não bateram, o meu e o do titular da coluna Koisas.

Éramos de tribos diferentes – e, diria, algo conflituosas.

Justiça seja feita.

Estabelecemos um silencioso pacto de tolerância.

Explico.

Eu, por óbvios motivos, estava de olho numa possível vaga como repórter.

Ele, porque tolamente imaginou que eu fosse algum filho de bacana.

A razão é simples.

Coisas de pai zeloso, sabem como é?

O Velho Aldo conhecia alguém que conhecia outro alguém, que era próximo de alguém que conhecia alguém que trabalhava com o deputado Fulano de Tal e, este,sim, me indicou para um amigo que era jornalista no Diário que passou a ‘bomba’ para o tal José Armando Cavalcanti.

Não tenho memórias precisas do que aconteceu naqueles dias.

Lembro que, certa tarde, entrei no elevador (aqueles antiguinhos de portas que abrem lateralmente) ao lado do senhor Edmundo Monteiro, sucessor do lendário Assis Chateaubriand no comando do primeiro ‘império’ de comunicação do País.

Quanta honra!

O homem foi anunciado e reverenciado pelo simpático ascensorista – uma pena que lhe esqueci o nome, pois foi um dos raros companheiros a me dar atenção enquanto estive ali.

Nem com tamanha pompa (subir três andares ao lado da Presidência), vou lhes dizer que sentia qualquer emoção por estar ali. Aliás, se aquele ditado que diz “a primeira impressão é a que fica” estivesse certo, talvez eu tivesse deixado o jornalismo ali mesmo, antes até de começar minha humilde e modesta carreira.

Vou lhes ser sincero, como sempre tento fazer por aqui.

Desconfio que o pimpão Zé Armando não precisasse de mais ninguém para lhe ajudar a alinhavar o ‘pacote’ de notinhas diárias sobre a vida nas altas rodas sociais, por onde andava o governador Laudo Natel, e outras amenidades do gênero.

Já havia ali dois colaboradores que, registre-se, pouco colaboravam.

Enfim…

Não foi difícil deduzir que estava sobrando por ali.

Numa tarde, me enchi de coragem e fui conversar com o secretário da redação, aquele mesmo que havia me despachado para o terceiro andar, o Armindo/Arlindo/Armando, sei lá, esqueci o nome.

Disse-lhe, todo trêmulo, que não levava jeito para o colunismo social. Talvez, se ele achasse conveniente, assim_assado_e_acossado, poderia me dar uma chance na editoria de Esportes ou…

Ou…

Nada.

O homem nem deixou eu terminar de falar.

Bufou com os afazeres do momento, o fechamento da edição, a situação precária do jornal, que não tinha tempo para salamaleques pessoais…

Que o Zé Armando queria montar uma redação só pra ele no terceiro andar.

Que havia uma turba de estudantes de jornalismo querendo uma oportunidade como aquela.

Se eu não estivesse gostando…

Vivam a cena.

Ponham-se no meu lugar, naqueles idos.

Fiquei mais sem graça que um palhaço do Circo Vostok, mais solitário que um paulistano.

Desci para tomar um café – e, ali, no boteco em frente ao prédio histórico, desabafei para mim mesmo. Ruminei alguns impropérios contra tudo e contra todos. E, solenemente, paguei a conta e desisti do Diário da Noite.

Foi assim que o mundo e o jornalismo perderam um arremedo de Amaury Júnior.

TRILHA SONORA – 1974

Detalhe:

O valentão aqui nem sequer foi retirar a carteira de trabalho.

Entrou, creio eu, para o espólio e a massa falida dos Diários e Emissoras Associados.

Era bom demais ter vinte e poucos anos e todos os sonhos do mundo.

Ainda nenhum comentário.

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