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O cronista

Já fui balconista de loja de discos, bancário por 45 dias, auxiliar de agrimensor, recenseador do IBGE, pesquisador do Gallup, assistente de direção do Grupo Escolar Jardim Moreira até começar no jornalismo como estagiário em 1974.

A partir daí, andei por redações e assessorias de imprensa até 1998 quando ingressei na universidade para dar aulas no curso de jornalismo. Por cinco ou seis anos, acumulei as duas atividades e, de quebra, entremeei um mestrado em Comunicação Social.

Desde o estelar dia 25 de setembro de 2006 venho tocando este blog, com algum entusiasmo e outra tanto de espanto e expectativa.

Ah!, em 1997, lancei o livro “Às Margens Plácidas do Ipiranga”, uma coletânea de textos que escrevi em 20 anos de jornalismo. (Não se espantem. Não errei nas contas, não. É que planejei o livro em 94, mas só consegui publicar três anos depois e levei um bocado de tempo para vendê-lo. Está postado ao lado, aqui no site, na barra à direita.)

II.

Por que falar hoje das minhas mil e uma utilidades?

É simples, mas nem tanto.

Li ontem em O Estado de São Paulo que o escritor e jornalista Ignácio de Loyola Brandão tomou assento na cadeira número 37 da Academia Paulista de Letras, em solenidade realizada na noite de quinta-feira, no Salão Nobre da Faculdade de Direito São Francisco.

Não, não estou me candidatando a nada, não.

Calma, calma…

Aliás, achei a indicação mais do que merecida.

Aos 70 anos, este paulista de Araraquara é autor de 27 livros, jornalista de renome e atualmente uma das minhas leituras obrigatórias nas páginas do Estadão, onde semanalmente assina uma coluna sobre as coisas que estão no mundo e a gente precisa aprender.

III.

O que me chamou a atenção, comoveu e, de resto, resultou nessas linhas foi um breve trecho do discurso de posse de Loyola. Ele diz que no futuro gostaria de ser lembrado como cronista. E achei essa colocação soberana; única e especial.

Vou transcrever o que li na reportagem.

— Quero que o próximo que ocupar essa cadeira se refira a mim como cronista. Eu gosto de ser cronista. Você anda, e as coisas agarram em você (…) Confesso que jamais tive um raio que caiu na minha cabeça e eu escrevi um poema. Para mim, inspiração é observação. Nessa cidade, a poesia está em todo lugar. É só estender a mão e apanhá-la.

IV.

É preciso dizer mais? Pois, direi então…

Com essa fala , Loyola reverencia um gênero que anda à mingua na literatura e no jornalismo brasileiros: a crônica. Um gênero que teve e tem, tanto lá (na literatura) quanto cá (no jornalismo), uma extraordinária importância para retratar e refletir o que sente nossa gente lá nos grotões da alma ou no gotejar da água cristalina dos sentimentos. Exatamente aquilo que os frios números das pesquisas não conseguem provar, as dissertações e teses acadêmicas esquecem, os blábláblás dos depoimentos e entrevistas não revelam, os releases escondem e, não raras vezes, se perde no vão do tempo.

Outro notável cronista, Carlos Heitor Cony, alertou há alguns anos que a crônica é o último reduto da emoção no jornalismo de hoje. Não sei se foram essas as palavras, mas a essência, sim.

Aliás, Cony tem um texto lindo sobre a crônica como gênero literário e o antijornalismo.

V.

A postura de Loyola, por fim, me inspira a listar alguns dos grandes cronistas brasileiros. Mesmo que os espaços nas publicações andam escassos, eles estão pela aí nas prateleiras das livrarias à espera de uma leitura ou mesmo de uma releitura que nos permita entender melhor esse País e sua gente.

De memória, vou dizer os meus preferidos: Rubem Braga, Fernando Sabino, Cony, Nélson Rodrigues, Paulo Mendes Campos, Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Joel Silveira, Raul Drewnick, Lourenço Diaféria, Veríssimo, Stanislaw Ponte Preta, Ivan Lessa, o próprio Ignácio de Loyola Brandão e Humberto de Campos (o pai de todos).

Certamente, esqueci de alguém… Mas, se meus cinco ou seis leitores quiserem, podem me ajudar. Aceito, de bom grado, sugestões para completar a ilustre relação.

VI.

O quê?

Ainda não entenderam o motivo de começar o texto de hoje com tudo o que fui e fiz na minha insignificante vida profissional.

Estou até sem jeito para escrever. Confesso que pensei em terminar por aqui, sem maiores explicações. É que depois dessa lista fica absurdo dizer o que eu gostaria de dizer. Mas, vá lá…

Comecei, agora vou até o fim…

Desculpem a petulância, mas eu também gosto de ser…

CRONISTA.

Que me perdoem os vendedores de disco, balconistas, bancários, recenseadores, funcionários públicos, revisores, repórteres, redatores, coppy-desks, editores, professores universitários, coordenadores de curso de jornalismo! São funções que exerci e exerço com empenho e dignidade. Mas, confesso, lá no fundinho de eu mesmo, também gostaria de, no futuro, ser lembrado como CRONISTA.

VII.

Aliás, este é o grande barato deste blog…