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O Dia Seguinte (Nasci e Dogiva – parte III)

V.

No dia seguinte, amanhecemos nas bancas para ler a estréia de Dogiva no mundo das celebridades. Nada encontramos. Ou melhor, o assunto fora, como só e acontecer, meticulosamente destrinchado na coluna do Ismael Fernandes. Ao que tudo levava a crer, o homem saiu do hospital direto para a festa da nova novela da Globo.

E o Dogival, que tanto se preparara, o que teria sido do amigo?

— Beleza, gente. Estou devolvendo os badulaques que vocês me emprestaram, com sinceros agradecimentos e, certo estou, que jamais esquecerei o que fizeram por mim. Para os amigos, tudo…

Era o velho repórter policial chegando e no melhor estilo. Bom ver o amigo bem humorado. Como de hábito, respondemos em coro à provocação.

— Para os inimigos, apenas a lei…

Mas, caramba, imaginávamos o homem arrasado. Tanto se preparara para a matéria – e, no fim, não escreveu uma linha sequer sobre o assunto.

Ele explicou numa boa, e sorriu um riso suspeito de quem havia se dado bem.

— Então, quando eu cheguei lá, o Ismael já estava canetando Deus e o Tarcisão. Disse que não perderia esse lançamento por nada no mundo. Que era um especialista em novela. Vocês sabem, o Ismael sabe tudo nessa área. Fiquei chateadinho, mas não por muito tempo.

Dogival tomou fôlego e continuou:

— Estava consultando meu bloquinho para ver o que sobraria para eu fazer hoje quando voltasse de mãos vazias para a redação, quando ouvi uma voz suave a me perguntar: “Posso saber o que você tanto escreve aí?”

VI.

Posso assegurar, senhores, que a história ganhou, a partir daquele momento, contornos de aventura para nós. Todos se colocaram no lugar do repórter.

— Ia responder que não era lá da conta da distinta. Não deu tempo. A hora que olhei aquele monumento, falei o que podia e o que não podia. A moça parece que gostou, pois não desgrudou de mim a festa toda. Dispensou até o motorista particular, dizendo que preferia ir comigo.

Todos fechamos os olhos num arrepio. Lembramos, de imediato do chevetinho bala, do amigo. A moça parecia ser uma dessas dondocas, da alta. Como enfrentaria aquela jabiraca de tempos idos, vividos e havidos? O que ela diria das almofadinhas de crochê que enfeitavam o banco traseiro e serviam de travesseiro para quando os filhos estavam com sono?

— Na boa, meus queridos. Ela disse que era um cara todo estiloso – e um carro daqueles era mesmo uma excentricidade. Completou dizendo que adorava excêntricos.

Claro, claro que, olhando a estampa do Dogival e a história que estava contando, alguém lembrou outro mote muito comum entre os nossos. “Fogo, morro acima. Água, morro abaixo. Mulher quando… cisma, ninguém segura”.

VII.

— Pois é, figuras, quem é é. Quem não é não se conforma…

Mas, e aí, conta o resto, pedimos. Pedimos, não. Quase imploramos.

E ele não se fez de rogado.

(Continua amanhã…)

[Texto publicado no livro "Meus Caros Amigos – Crônicas sobre jornalistas, boêmios e paixões"]