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O grito de independência do Museu do Ipiranga

Confundida com o símbolo da soberania nacional e independência, a instituição que ameaçava ruir em 1994 hoje se equipara em importância e freqüência aos dois principais museus brasileiros

Entre 20 mil e 25 mil visitantes devem passar pelas catracas de entrada do Museu do Ipiranga até quinta-feira, 7 de setembro. Um número significativo, que vem aumentando a cada ano, especialmente depois de concluído o amplo restauro do prédio centenário, que ameaçava ruir em meados de 1994. Foram gastos nada menos de R$ 7 milhões, com o apoio da iniciativa privada e de movimentos comunitários. E, em setembro de 1998, o Museu Paulista da Universidade de São Paulo (seu nome oficial) exibia-se totalmente revitalizado, com novas alas e informatizado. Hoje, equipara-se, em importância e freqüência, aos dois principais museus brasileiros: o Imperial de Petrópolis e o Histórico do Rio de Janeiro.

Apesar da legião de visitantes, uma ausência vai se fazer sentir. Será a primeira Semana da Pátria sem o professor José Sebastião Witter, que deixou a direção do museu em dezembro de 1999 e foi o principal responsável pelo que denominou de
jornada épica. Mas o próprio Witter assegura que não há motivos para tristeza. Primeiro, porque a atual diretora, Raquel Glezer, está fazendo uma ótima administração. E porque a sensação da missão cumprida é reconfortante.

“Deu um trabalho enorme”, diz Witter.”Mas eu me sinto um privilegiado por ter estado no lugar certo, na hora exata. Com meu jeitão marqueteiro e inquieto, somei forças ao meu lado e realizei o que considero a grande obra da minha vida.
No ano em que completaria um século, o Museu do Ipiranga vivia um momento crítico. Tão crítico que as torres leste e oeste corriam o risco de desabar. Quase todas as alas e dependências apresentavam problemas crônicos e a construção, que era confundida com o símbolo da soberania nacional e independência, precisava de uma grande reforma, urgente”.

O estuque, desabando

Maior exposição do Museu Paulista como instituição viva. Com esta proposta acadêmica, o professor Witter assumiu a função de diretor e, a partir de janeiro de 1995, deu ênfase ao seu projeto mais ousado: a reforma do prédio. Ainda na posse, esboçou os primeiros contatos com lideranças regionais (movimentos populares, clubes de serviços, associações, sociedades amigos de bairros, entidades representativas da OAB e da Associação Comercial) e também representantes de entidades educacionais da região.

Em 24 de janeiro, reuniu diversas personalidades do mundo político e empresarial, além dos grandes nomes da Universidade de São Paulo (USP). O objetivo era sensibilizar o ministro da Cultura, Francisco Weffort, presente ao encontro, para a gravidade da situação.

Witter lembra que se deu conta da decadência do museu quando foi surpreendido por uma lasca do estuque do teto que caiu a poucos metros de distância. Ele já havia sido advertido por seu antecessor, professor doutor Ulpiano Toledo Bezerra de Menezes, de que a subida das escadarias havia apresentado problemas no ano anterior – às vésperas do 7 de setembro, caíram vários fragmentos na entrada principal.

“Não era possível esperar mais”, recorda.

A tarefa hercúlea da restauração extrapolaria o empenho de todos os integrantes do Museu. Contaria com um esforço coletivo de todos segmentos próximos à instituição – a comunidade local, os ‘uspianos’, setores educacionais, o empresariado e autoridades ligadas à Cultura e à Educação dos três poderes.

Caráter emergencial

De janeiro de 1995 a março de 98, quando foram inauguradas novas alas subterrâneas, o Museu Paulista passou pela mais importante reforma de sua história. Com custo aproximado de R$ 7 milhões, o trabalho restaurou todas as dependências, detalhe por detalhe.

A maior preocupação era com as torres laterais, comprometidas por infiltrações de água e pelo descaso de anos e anos. Durante a realização do espetáculo Luz e Som, nos anos 70, essas torres serviram de suporte para um pesado maquinário que incluía holofotes e caixas de som. Os danos foram consideráveis. E o professor conclui: “Às vésperas da minha primeira Semana da Pátria como diretor, em 95, pequenos fragmentos do teto continuavam caindo. Providenciamos um andaime de sustentação e entendi que o restauro tinha caráter emergencial”.

Os cem anos de sua história pesaram, explica o professor: “Houve um desgaste natural, além de algumas intervenções inadequadas. Também as dificuldades de manutenção pela falta de recursos começavam de forma lenta, mas ininterrupta, a ameaçar a estabilidade física do edifício. Cansei de ouvir expressões como ‘aquela goteira está fazendo mais um aniversário”.

A queda de partes do forro da entrada monumental não só denunciava o descuido como ameaçava os visitantes. Mais ainda: os fios da instalação elétrica, em grande parte, datavam da chegada da luz ao bairro, lá por 1946. A pintura interna precisava de cuidados. Enfim, impunha-se uma ação segura, forte e obstinada e era preciso buscar recursos.

E lá se foi o professor atrás de parceiros nesta jornada épica. Fez o ministro Weffort e outras autoridades andarem pelo teto do museu para ver in loco
o tamanho do buraco. Um encontro com diretores da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo foi outro passo importante. O então superintendente Carlos Eduardo Moreira Ferreira ficou impressionado e assegurou ajuda incondicional.
A Fundação Roberto Marinho doou R$ 300 mil para a manutenção do arquivo de 13 mil fotos de Militão Augusto Azevedo, que registrou São Paulo e seus habitantes na virada do século 19. O material foi doado pela própria instituição e hoje ocupa parte dos 270m do subsolo, transformado em área de exposição e entregue à população em 1998.

Já com o projeto da reforma em andamento, Witter tratou de aproximar o museu das suas gentes. Criou a Sociedade de Amigos do Museu Paulista (Sampa), com empresários da região e parte do corpo acadêmico da USP. Outra iniciativa: a participação ativa em campanhas de cunho social do bairro, especialmente pela preservação dos arredores e do Parque da Independência.

Witter também assumiu uma das coordenadorias do Movimento Cívico que propõe a recuperação do monumento e da Capela Imperial. O movimento ainda defende a não construção de um conjunto de prédios residenciais ao lado do parque, onde havia um convento do início do século, derrubado por incorporadores imobiliários. A obra está embargada no Instituto Federal do Verde e Meio Ambiente.

Enquanto os primeiros reparos iam sendo acelerados, o museu ganhou novas atividades que o referendavam como instituição viva. Abriu espaços para eventos artísticos e culturais: lançamento de livros, peças de teatro com atores de renome, espetáculos musicais, desfiles.

Para o empresário ipiranguista Guilherme Teodoro Mendes, presidente do Movimento Cívico em Defesa do Parque da Independência e membro da Comissão Estadual que preparou as festividades de 500 anos do Descobrimento,
o museu voltou a ser a casa de todos os ipiranguistas na gestão de Witter. Ganhou nova vida e foi alicerce de muitas lutas em prol da comunidade, como a recuperação e restauro do vizinho Monumento da Independência e da Capela Imperial.

Volta no tempo

Já o vice-diretor do Centro Universitário Assunção-UniFai, professor Osmar Garcia Stolagli, diz que essa integração recuperou uma tradição do início do século.
O Ipiranga, enquanto um bairro urbanizado, surgiu a partir da construção do museu, tanto que sua homologação oficial se deu em 1934. Antes, era considerado Freguesia do Cambuci. Desde então, destacou Stolagli, o museu, seus jardins e alamedas são para o ipiranguista um referencial, um ponto de cultura, ciência, lazer e de vida. “Conheci minha mulher em um domingo, em frente ao museu. E sei de muitas histórias como esta”, relembra.

Outro antigo morador do Ipiranga, o comerciante Frederico Luiz Castellani, fala da beleza e das recordações evocadas pelo museu. “Ver essa gente toda ao redor do museu faz lembrar meus anos de rapazote. Era aqui que todos vinham passear, brincar, namorar, contar proezas, falar de futebol e política. Era aqui que a vida acontecia. E felizmente continua acontecendo”.

Desde 13 de dezembro de 1999, o professor José Sebastião Witter não desempenha mais as funções de diretor do Museu Paulista. Por questões burocráticas de aposentadoria, e para agilizar outros trabalhos, resolveu antecipar sua saída, após 47 anos de trabalho dedicado à USP.

Dias antes, porém, Witter viu seu último sonho tornar-se uma luminosa realidade. Nas noites de quinta a domingo, o imponente prédio de estilo neo-renascentista exibe sua nova iluminação externa garantida por 375 lâmpadas de tons brancos e dourados que redimensionam os detalhes de sua rica arquitetura e criam um dos mais bonitos espetáculos noturnos de São Paulo.

TRADIÇÃO QUEBRADA: UMA MULHER NA DIREÇÃO

O professor José Sebastião Witter foi sucedido pela professora e historiadora Raquel Glezer, a primeira mulher no comando no museu

A sucessão do professor José Sebastião Witter no Museu Paulista quebra uma tradição secular. É a primeira vez que uma mulher, a professora historiadora Raquel Glezer, ocupa a direção do museu desde a primeira gestão, em 1894, de Hermann von Lhering.

“Fiquei muito honrada e feliz”, diz a historiadora. Mas quero deixar claro que, na USP, já existe uma tradição de no mínimo 40 anos com mulheres que ocupam cargos de chefias de unidades. O museu é uma unidade da USP – e, portanto, não há nenhum absurdo aí. Apenas não havia acontecido”.

A professora Raquel reconhece, no entanto, que a responsabilidade dobra porque assumiu o cargo depois dos professores Ulpiano Toledo Bezerra de Menezes e José Sebastião Witter. “Foram gestões brilhantes, que incluíram o Museu Paulista na reestruturação dos museus, realizada pela universidade a partir de 1989. Minha preocupação é continuar mantendo o padrão das programações e sua integração com a cidade. Também tenho como prioridade garantir a preservação do acervo do prédio, dos jardins e da história que caracteriza o bairro”.

Faz sentido a preocupação da professora ipiranguista de 55 anos, que está na USP desde 1963. No caso específico do professor Witter, ele era uma espécie de
faz-tudo no museu. Além de historiador, escritor e colaborador de diversos jornais, era ele quem recebia a imprensa, fazia a ponte com autoridades de todos os calibres, dentro e fora da USP. Enfim, projetava toda a estratégia do museu como entidade viva e participante. “É bem verdade que eram outros tempos – e a prioridade da imensa reforma se impunha. Hoje, a proposta é continuar dando apoio e vida aos sinais mais expressivos da alma brasileira, seja no campo das artes, da cultura, da ciência ou da história” – diz.

História de São Paulo

A proposta é manter a mesma dinâmica, ressalta a diretora. “Afinal, o Museu do Ipiranga é uma interface da USP muito importante”, acrescenta.

Trata-se de uma instituição extremamente ativa. Não há apenas a parte expositiva como muitos acreditam. As funções do museu vão além. Há os laboratórios de conservação e restauro (de obras em tecido, tela, papel e madeira) e uma biblioteca inteiramente informatizada com mais de 60 mil títulos, alguns raros exemplares de cunho histórico, que serve a um público especializado de todo o País.

O museu é, enfim, um centro de excelência de História. Seus estudos estão centrados na história de São Paulo e são voltados para a formação da sociedade brasileira, do século 15 até meados do atual, com predominância do período 1850/1950. Oferece cursos, seminários e estágios em diversas áreas educacionais e promove mostras permanentes e temporárias, com temas específicos.
Para este 7 de setembro, a ala mais procurada, o Salão Nobre, vai receber uma exposição sobre o quadro Independência ou Morte. As professoras Cecília Helena e Claudia Valadão trabalharam com um material que pertence ao acervo do museu e revela aspectos pertinentes à obra clássica de Pedro Américo.

Raquel Glezer faz questão de salientar que o Museu do Ipiranga tem um diferencial em termos de visitação pública.”Não há campanha na mídia para que as pessoas venham visitá-lo”, explica. “Não fazemos também grandes investimentos ou temos um serviço promocional de maior envergadura. Por si só, com os próprios recursos (que vão desde uma maquete da bucólica São Paulo antiga, datada de 1841, às mechas de cabelos da Marquesa de Santos), atrai esse impressionante contingente de 250 mil pessoas por ano”.

Uma marca que tem seu ponto alto durante os primeiros dias de setembro. A chamada Semana da Pátria atrai diariamente de dois mil a três mil visitantes. “O Museu do Ipiranga sempre fez parte da minha vida. Eu nasci e me criei no bairro. Costumávamos brincar em seus jardins e alamedas. E, desde então, convivo com o carinho que as pessoas têm pela instituição. Todas, de uma forma ou de outra, acreditam que a História do Brasil passa aqui”, conclui a diretora.

UM VIZINHO MULTIMÍDIA PARA O GUARDIÃO DE NOSSA HISTÓRIA

Anunciado no ano passado, o Espaço Museográfico da História da Independência vai ocupar a área interna do Monumento da Independência. Mas ainda não há data certa para sua inauguração

O Museu Paulista da Universidade de São Paulo está prestes a ganhar um vizinho ilustre – e multimídia. O Espaço Museográfico da História da Independência ainda não tem data certa para ser inaugurado, mas já está em obras.

O projeto foi anunciado em julho do ano passado por seu idealizador, o secretário estadual de Recuperação do Patrimônio Histórico, Emanuel Von Laurenstein Massarani. Vai ocupar a área interna do Monumento da Independência – que até então estava sem destinação – e será inteiramente dedicado aos fatos e personagens que marcaram a história da independência do Brasil.

Uma das atrações do espaço será contada por meio de recursos audiovisuais. O visitante poderá acompanhar as principais etapas que marcaram o trajeto da independência, desde que o então Príncipe Regente saiu do Rio de Janeiro com destino a Santos, até o grito Independência ou Morte.

Serão 700m² para visitação, aproveitando a estrutura interna do monumento, com duas entradas laterais e acesso interno à Capela Imperial. Para tanto, foram retiradas 900 caçambas de terra do local.

Inauguração incerta

A intenção do secretário Massarani era inaugurar a obra em abril passado, durante as comemorações dos 500 anos do Descobrimento. Depois, esticou o prazo para setembro. Também não foi possível. A nova data está prevista para novembro.

Vamos valorizar toda a área, inclusive a Cripta Imperial que está em estado de semi-abandono, destaca o secretário.

O Museu do Ipiranga tem hoje um acervo muito abrangente que não focaliza, com realce, a história da independência, que vai ser nosso tema único, enfatizado pelos recursos multimídia que adotaremos.

UM PARQUE NO MEIO DE TRÊS PODERES

Espaço de muitos donos, o Parque da Independência sofre com os conflitos de interesse entre o município, o Estado e a União

O Parque da Independência é na verdade um espaço de muitos donos e de ninguém. O Museu Paulista e de Zoologia são da USP; o monumento, a capela e a Casa do Grito pertencem à União, que é, em tese, proprietária de toda a área. Mas é a prefeitura que cuida da conservação, reforma e/ou limpeza das alamedas e jardins, incluindo o bosque, resquício da Mata Atlântica, que se situa atrás do museu.

Sempre que surge discussão sobre algum assunto que envolve áreas comuns, é inevitável a confusão entre os poderes. Volta à tona a tese de se criar uma comissão autônoma e independente. Mas o que sobra, nessas horas, é o atraso de meses ou anos para solução de problemas muitas vezes simples, como a recuperação das fontes ou dos jardins.

Esses conflitos de interesse acabaram desgastando a imagem do Museu do Ipiranga nos anos 70. Algumas versões tentam explicar o fato. Uma delas baseia-se no uso ostensivo do conjunto arquitetônico do Parque da Independência para comemorações cívicas, durante os governos militares.

O exemplo mais gritante talvez tenha ocorrido após as festividades do sesquicentenário (1972). O parque foi o principal cenário das celebrações em âmbito nacional. Houve uma grande reforma nos jardins e fontes e na parte externa do prédio. Também foi construído um lance de arquibancada nos jardins em frente ao museu – que, a iás, afrontava os traços renascentistas de toda a arquitetura e, por isso, foi implodido em 1986.

Fim do milagre

Foi instalado em toda a área um sofisticado (e caríssimo) sistema de audiovisual. A parafernália eletrônica projetava o espetáculo Luz e Som. Enquanto as fontes dos Jardins Franceses jorravam jatos d’água iluminados e multicoloridos, num Parque da Independência inteiramente às escuras vozes de atores famosos narravam fatos da História do Brasil na versão positivista dos militares, de ordem e progresso. Como fundo musical, o Hino Nacional, o da Independência. De repente, grandes holofotes projetavam a imponente fachada do museu em diversos tons e cores. Os espectadores, na arquibancada, aplaudiam e, ao final, acreditavam mesmo que existia o tal milagre brasileiro.

Com o passar dos anos, porém, a coisa toda desandou. Por mais sonoro e retumbante que fosse, o Luz e Som não convencia mais ninguém. A fórmula já estava desgastada e os aparelhos começaram a dar panes irreparáveis. O espetáculo foi suspenso, os equipamentos deterioraram e o parque foi relegado ao abandono, virando ponto de encontros de casais e marginais, até pela falta de iluminação.

O parque transformou-se numa fonte de preocupação para a própria comunidade. Só era lembrado às vésperas da Semana da Pátria, quando ganhava, às pressas, uma limpeza e uma pintura externa… Ou, pior, quando algum ato de vandalismo ou mesmo assaltos e mortes registravam-se em seus arredores.

FALTA DE VERBA, CASO ANTIGO

E apenas uma das histórias da história do Museu do Ipiranga. A obra foi autorizada por D. Pedro I em 1823. Mas só ficou pronta em 1890

Construído em cinco anos, de 1885 a 1890, o prédio do Museu Paulista da Universidade de São Paulo foi projetado pelo engenheiro italiano Tommasso Gaudenzio Bezzi e, desde o início do século, é reconhecido como
lugar de memória nacional.

O projeto arquitetônico data de 1882 e a proposta inicial era marcar para a posteridade o lugar onde ocorrera, em 1822, o Grito da Independência, embora até hoje haja controvérsias sobre sua localização exata.

A construção em estilo renascentista (há quem assinale uma semelhança proposital com o Palácio de Versailles, em Paris) reúne um acervo de mais de cem mil peças e apenas um terço delas estão expostas. Os destaques são o quadro de Pedro Américo Independência ou Morte, a coleção de fotos de Militão Augusto Azevedo e telas de Rugendas, Debret e Benedito Calixto.

Mas a história do Museu Paulista remonta a 1823 pela vontade do próprio D. Pedro I. De próprio punho, ele assinou a licença para a criação de um monumento à independência do Brasil. Três anos depois, a construção começou, mas teve de ser interrompida por falta de verba.

Em 1876, retomou-se a idéia do monumento, com a realização de um concurso público para escolha do projeto. Não deu em nada. Em 1882, Bezzi foi escolhido para fazer a obra, mas o trabalho só se iniciou em 1885.

Com a proclamação da República, os defensores do novo regime questionaram a validade do monumento de pedra e cal e deram ao prédio uma função mais utilitária. Seria um instituto destinado a ensinar ciências físicas e matemáticas e ciências naturais, como consta dos anais da Assembléia Legislativa da 36.ª sessão ordinária de 1889.

Quando a obra ficou pronta, porém, houve um imprevisto. Os ventos fortes que castigavam a região foram considerados insalubres para os alunos. O governo então decidiu transformá-lo em museu e, na seqüência, adquiriu a coleção do museu do Major Sertório, nascendo assim, em 7 de setembro de 1895, o Museu do Ipiranga, denominação que se popularizou por estar situado num arrebalde que os índios, antes dos portugueses, já chamavam de ypi anga (lugar onde corre o rio de águas barrentas, vermelhas).

Matéria publicada no Jorna da Tarde