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O Povo e a Pátria

Às vezes, é preciso que tudo mude para que tudo fique como está… Imaginaram-se feitos um para o outro: a Pátria e o Povo. Tinham momentos de puro sonho, encantamento, certezas. Em outros, porém, desconfiavam. Seriam capazes de enfrentar o sol e a chuva, as pedras do caminho, os desafios do futuro sem abrir mão do sonho, do encantamento… E as certezas? Tudo está sempre por um fio; o sim e o não tão presentes no dia-a-dia de toda gente. Por onde seguir?

O Povo gostaria de uma solução imediata para os problemas, o aqui e agora. A violência das ruas, os desmandos dos senhores do Poder, a hipocrisia dos infelizes, os escândalos… Estava cansado de lidar com tamanha angústia. Pensou, então, em um personagem das crônicas de Nelson Rodrigues, o sr. Imponderável de Almeida, que surgia sempre que tudo parecia definido e mudava a ordem natural das coisas. Seria bom demais — ponderou sem alterar as feições, mas olhando firmemente para a Pátria e o futuro. Estava decidido a seguir em frente, não havia outra alternativa: queria fazê-la feliz; só assim poderia ele próprio encontrar o que chamam de felicidade. Andaram distantes, a Pátria e o Povo.

Agora, se reaproximaram e o silêncio dos grandes embates pesava sobre os dois. A Pátria não conseguiu se conter e começou o diálogo sem saber exatamente onde a conversa franca poderia os levar: — Estou com medo. — Medo do que? — retrucou o Povo que, por vezes, também tinha lá suas hesitações. — Medo da vida… Do que pode acontecer com nós. — Como assim? — respondeu sem responder, apenas para ganhar tempo e pensar melhor como responder. — Não sei explicar. Agora, de novo, somos só nós… E vamos ter que enfrentar o mundo. Não vai ser fácil… — E alguma vez foi diferente? — disse logo.

O Povo tentou dizer mais: que estavam juntos, como nunca estiveram. E não haveria convenção, nem globalização, nem campanha na mídia. Nada os venceria. Falavam claramente de dores e amores. Tinham planos, e ficariam atentos ao que desse e viesse. Valeria cultivar a verdade e afastar todo e qualquer fantasma. Havia um compromisso inarredável com a vida que sempre quiseram viver. Então, não há mais tempo a perder — continuou. Vamos seguir em frente. E, à medida em que os problemas forem surgindo — e problemas, sempre os há –, vamos resolvê-los com o instrumental que o Tempo, tambor de todos os ritmos, nos oferecer… Não há como escapar ao nosso destino.

Doces palavras. A Pátria entendeu que era hora de acreditar. Mesmo porque já haviam atravessado rios, mares e montanhas e, por maiores que tenham sido as dificuldades, não se perderam. Não seria agora que iriam se perder. Ter medo faz parte do jogo da vida. O medo só não pode paralisar quem realmente se propõe a construir um mundo melhor, apesar dos Malans, FHC, ACM e dos desmandos que aí estão a aporrinhar a vida. E mais não falaram porque nada havia mais a dizer. Pátria e Povo se conscientizaram que são indivisíveis. São uma coisa só, assim como o Sol e a Luz, imprescindíveis para a vida…