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O recado da Leila

Meu caro, ando tão em silêncio que, no outro dia, em meio ao trânsito louco desta cidade, me surpreendi com um som incrível.

Meu carro estava com vidros fechados, ar condicionado ligado. Mesmo assim, ouvi algo que me tocou.

Olhei para o lado e vi uma moça com um piercing no nariz, a testa tatuada, a dançar ao volante. Não estava nem aí com o trânsito, nem com os possíveis ladrões – que, nesta região, atacam mesmo…

Vou ser sincera, amigo.

Não resisti àquele som.

Abri o vidro, dei um toque na buzina e perguntei:

— Nossa, o que você está ouvindo?

Ela respondeu, feliz:

— Você gostou?

Respondi:

— É um super som. Mas o que é?

— Anota aí: Pat Metheny, um guitarrista das antigas, muito demais…

No próximo semáforo, voltamos a nos encontrar. Foi a vez de ela buzinar e dizer:

— Procure no Google e no Youtube. Você vai pirar.

Bem, achei divertido.

Mas o som continuou na minha cabeça. Resolvi parar na FNAC e fui procurar o tal.

Nossa, ouvi por mais de uma hora ele tocando e o Milton Nascimento cantando. É lindo. Você conhece?

Enfim, tem hora que acho essa cidade o máximo.

II.

Antes de mais nada, Leila, vou concordar com você, como sempre.

Há momentos em que São Paulo é mesmo o máximo.

Quando você menos espera, vem a surpresa.

E nossa vidinha, que andava assim assim, ganha cores e som.

Lembro-me que, certa vez, também em meio ao trânsito, descubro um rapaz a se divertir com um pandeiro. O ‘anda-e-para’ do congestionamento não lhe incomodava em nada. Só o fazia mais feliz – e ele, mesmo sem imaginar, me ensinou que é possível tirar proveito de qualquer situação, por mais aborrecida que nos pareça.

III.

Quanto ao moço da guitarra, Pet Metheny, já o conhecia superficialmente. De uma ou outra audição em tempos idos, quando escrevia sobre música popular.

É um talentoso guitarrista.

IV.

Aliás, seu recado me fez lembrar o grande Jackson do Pandeiro, o inventor do forró. Era um ás do ritmo, imbatível no instrumento que lhe deu o nome e a fama. Mas, segundo palavras do próprio, morria de inveja de quem sabia tocar acordeon.

Eu vivo a mesma frustração, quando vejo alguém esmirilhar a guitarra.

FOTO NO BLOG: Lucas Lima