Sign up with your email address to be the first to know about new products, VIP offers, blog features & more.

Os nublados

Para Dinoel e Dagmar, ausentes do Blog há tanto tempo..

O dia se fez cinza, aborrecido.

Olhei pela janela, vi a névoa…

Olhei pra mim, vi a chuva intermitente da tua ausência.

O impulso era voltar para a cama.

Esquecer o dia. Esquecer você…

Impossível.

O trabalho me espera.

As contas me esperam.

Compromissos, reuniões, afazeres mil.

Todos parecem me esperar.

Mas, não você…

II.

Ainda não tem rádio no carro novo.

Não há novidade no caminho.

Apenas o silêncio, imposto pelos vidros fechados.

Hermeticamente fechados.

Sobram lembranças que se interpõem, umas às outras.

Todas com nome e sobrenome.

Havia um apelido, qual mesmo?

Aquela senhora que, de certo modo, nos abençoou a chamava de…

Risadinha.

Risadinha…

Tinha mesmo o dom de sorrir – e encantar.

III.

Incrível!

Hoje o trânsito melhorou.

Cadê os carros que congestionam a via expressa – e a fazem sem pressa?

Será que as pessoas nubladas, como eu, tiveram a coragem que não tive?

Já sei voltaram para cama…

Que tolice. Não somos, mesmo os nublados, donos de nós.

Das nossas vontades. Dos nossos quereres.

Não somos nublados porque queremos.

Até se o sol aparecer – o que é bem provável –, continuaremos nublados.

— Um dia você esquece – alguém me disse.

Não perguntei nem o quê, menos ainda quando…

Também, é ruim de acreditar.

Eu, hein…

IV.

É inevitável.

Sempre que passo por essa rua lembro a cena.

Ainda não acreditava em nós.

Segui você sem que soubesse.

Quando me viu pelo retrovisor, estacionou na pequena rua.

Parei logo atrás.

Desci do carro, só entreguei o chocolate prometido.

Rocei seus lábios com breve beijo.

O tal sorriso encantado rasgou o seu rosto.

— Não acredito. Você é louco…

Não respondi.

Dei meia-volta e seguimos nossos rumos diários.

Estávamos atrasados para a lida…

Nada éramos.

Tínhamos tudo, Risadinha.

Vida e sonho…

V.

Um amigo que nos viu aquele dia foi profético:

— Aproveitem. Não acontece duas vezes.

Eu acreditei.

Você também.

Mas, preferiu fazer de conta que não…

Por isso, tenho certeza, também acordou sozinha.

Olhou o dia que se fez cinza, aborrecido.

Viu a névoa se aproximar, lentamente.

Gostaria de outra vez sorrir. Mas, como? Por quê?

Olhou para si e reconheceu a chuva intermitente da própria ausência.