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Os números, a ameaça e o alerta

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Ilustração: redes sociais

Claros e preclaros.

Não resisto em lhes dar o repeteco de uma historieta antiguinha – e o motivo que permanece atual, os amigos certamente entenderão.

Percebam: vai um tanto além de rememorar por rememorar meus 50 anos de jornalismo.

Digamos que é parte da minha profissão de fé e do ofício.

Seguinte:

O Nasci era diretor de Relações Públicas do Clube Atlético Ypiranga nos idos dos anos 70.

Eu, jovem e cabeludo repórter, pela primeira vez, iria cobrir o Carnaval em São Paulo.

Fui designado para retratar os bailes que se realizavam no ginásio do clube.

Naquele tempo, o carnaval de salão ainda estava em moda por aqui.

Logo na primeira noite, vi o salão lotado de foliões.

Procurei, então, o Nasci – foi quando eu o conheci – para me dar uma estimativa de público.

Nasci, o relações públicas, não pensou duas vezes:

— Aí por volta das 10 mil pessoas.

Fiquei impressionado.

Não duvidei por um instante. Para onde eu olhava havia gente.

Foi meu lead – e se bem me lembro o título da reportagem.

O saudoso editor, o AC, estranhou.

Me questionou:

– Tem certeza?

E o inocente aqui:

– Absoluta.

Desconfio que, pelo adiantado da hora do fechamento, resolveu “bancar” a informação.

Anos depois, o Nasci veio trabalhar com a gente na velha redação de piso assoalhado.

Virou o colunista Zé Armando.

Eu, o editor.

Eis que acontece um evento de grandes proporções no mesmo ginásio.

Havia tanto ou mais gente do que naquele baile de carnaval.

Nem me preocupei em apurar o número exato da superlotação.

Tasquei na manchete do jornal:

“Mais de 10 mil pessoas etc etc.”

Assim que viu o título o Nasci veio corrigir a bobagem que estávamos publicando.

— Não cabem mais do que 2 mil pessoas no ginásio.

Fiquei espantado.

Lembrei-o: ele próprio, quando trabalhava no clube, falou em 10 mil pessoas.

— Eu disse isso?, tentou disfarçar.

E justificou:

— Esse tipo de informação varia conforme o cargo que se ocupa. Se você está do outro lado do balcão (como um dos organizadores interessados), é praxe ser otimista, chutar pra cima. Bem pro alto mesmo. De outro modo, se você é o repórter, cabe apurar o número exato – e sair contando.

E riu a divertir-se da peça que me passara.

Fim do causo.

Concluo, direto e reto.

Não, amigos e leitores, não me dispus a sair pela aí a contar, cabeça por cabeça, o número de bolsonaristas no ato de ontem na avenida Paulista.

Que fique claro: não foram tantos, como especulam os organizadores e altos representantes do Governo Estadual. Também não foram poucos e raros.

Leio na coluna do Sakamoto que:

“A única estimativa com metodologia que veio a público até agora é a do Monitor do Debate Político no Meio Digital da Universidade de São Paulo, coordenado pelos professores Pablo Ortellado e Márcio Moretto, que produz há anos dados e análises sobre público de eventos políticos no país. Ela apontou 185 mil pessoas na manifestação às 15h, seu horário de pico.”

De qualquer forma, vale ficar atento.

A ameaça do autoritarismo tacanho e facistoide permanece viva e entranhada em parcelas privilegiadas da nossa gente. Triste e infelizmente.

Ainda nenhum comentário.

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