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Pariscida

Então, meus queridos, como estava dizendo ontem, comigo aconteceu algo parecido.

Aliás, nem sei como a Beth Caló, editora do Caderno de Cultura do Shopping News/City News – um belíssimo jornal semanal que circulava aos domingos em São Paulo, com tiragem, diziam, acima de 500 mil exemplares –, não me cobrou explicações.

Seguinte:

Era repórter da área de shows – bons tempos, hein! – e, toda a semana, estava pela aí a entrevistar as figuras que se apresentariam nas casas de espetáculos da Capital. De Sérgio Ricardo a Benjor, de Belchior a Leila Pinheiro, dos integrantes do Preme a Milton Nascimento, lá estava eu: esferográfica, laudas dobradas para as anotações e a maior das boas vontades para mostrar que a MPB é a grande arte do Brasil e a melhor e mais rica música popular do mundo…

Pode ter sido obra do acaso, pode ser, pode ser…

Mas, suspeito que foi essa desbragada paixão pela MPB que me induziu ao erro.

Em uma determinada noite fui escalado para cobrir o show que um jovem mineiro de nome Filó num bar paulistano. Conhecia o trabalho do cantor/compositor/instrumentista. Surgira na segunda metade dos anos 70, na esteira do sucesso do Clube da Esquina, apesar de não fazer parte da turma de Milton Nascimento (com quem, aliás, se parecia fisicamente), Beto Guedes, Lô Borges e assemelhados. Gravou um ou dois discos por uma pequena gravadora, chamada Chantecler, mas não aconteceu para o grande público.

Mesmo assim, tinha lá sua fama junto à crítica e ao meio artístico.

O rapaz falou do show que faria, de tanto a tanto, não sei onde, as canções que cantaria e mais uns teretetês, tudo devidamente ouvido e anotado por mim. Lá pelas tantas da conversa, um dos amigos o cutucou para revelar o grande segredo. Filó fez aquela expressão tipo “devo-não devo, devo-não devo” e eu, solerte repórter, quis saber.

Então, meio a contragosto, ele revelou que estaria embarcando para a Europa, mais propriamente para a França, logo após o espetáculo daquele fim de semana. Em Paris ou não lembro bem se em outra cidade, trabalharia com um expoente da música francesa – Ives Montand, se não me engano. O ‘medalhão’ já conhecia o trabalho do brasileiro e gostava muito e cousa e lousa e maripo(u)sa.

Brasilsilsil…

Achei o máximo e comecei a matéria por aí. Afinal, era uma conquista e tanto esse reconhecimento internacional para alguém que custava a ser reconhecido por aqui.

Na outra semana, chego à Redação, ali nos baixos da rua da Mooca, e já sou recepcionado com um risinho debochado por parte de uma das editoras assistentes. Ela me perguntou:

— Sabe a apresentação de quem eu vi ontem num bar em Pinheiros?

Ainda não se consagrara a Vila Madalena como zona boêmia de Sampa; tudo ali pertencia à região de Pinheiros.

Eu lá ia lembrar-me do Filó? Disse não.

E ela, com o sorriso ainda maior.

— Do cantor que você entrevistou semana passada. O Filó. Você não escreveu que ele iria fazer uma turnê na Europa.

— Escrevi, mas…

Não havia como explicar o inexplicável. A partir daí, virei motivo de brincadeiras entre os mui amigos jornalistas. Bastava chegar e todos me perguntavam:

— Onde está Filó?

Se o cantor já havia viajado ou quando ele iria de novo…

… tocar em ‘Pariscida do Norte’?