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Regina Curuci, a repórter

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Foto: Leila Kiyomura

Não lembro exatamente em que ano foi.

Idos dos 80 ou 90, talvez.

Também não lembro se Paulo Maluf era prefeito de São Paulo. Lembro que era candidato ao governo do Estado e viera à redação da Gazetinha em plena campanha eleitoral.

Chegara acompanhado de uma comitiva de admiradores e cabos eleitorais.

Maluf e a turba foram recebidos pela presidente do jornal, Dona Araci Bueno, e depois encaminhado à redação para registrarmos, com entrevista, a ilustre presença.

Era praxe a todos os candidatos que nos visitasse.

Alguns repórteres e fotógrafos de outros veículos também estavam presentes – e todos rodearam o candidato para o tal bate-papo.

Como editor, tentei organizar como pude a inesperada coletiva de imprensa.

Destaquei a repórter Regina Maria Curuci para a bateria de perguntas em nosso nome.

(Ô memória! Não lembro quem era o nosso fotógrafo na ocasião.)

Começa a conversa.

O repórter pergunta – e Maluf sai pela tangente. Finge que responde e dá-lhe falar de suas obras aqui, acolá, as de ontem, as de hoje e as do futuro.

Fala que fala.

Outra pergunta. A mesma misancene.

Maluf enrola e diz que faz e acontece.

Assim segue a entrevista.

Maluf discorre sobre feitos e proezas.

E a Regina quieta, sem nada anotar.

Quando é a vez dela perguntar, Maluf repete o mesmo expediente.

Responde aleatoriamente o que bem lhe interessa.

De repente, ele para o discurso – e diz a Regina:

“Anote, repórter, anote…”.

E ela, impávida:

“Quando o senhor responder o que lhe perguntei, eu anoto”.

Essa era a Regina Maria Curuci, repórter admirável com quem pude conviver durante anos e anos (mais de 20, talvez) na velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor.

Dona de um texto objetivo, direto e reto, comprometido com a clareza e a informação, Regina era capaz de transformar uma mera reclamação popular sobre um buraco de rua, um acidente de trânsito ou qualquer outra ocorrência no gênero, numa grande reportagem em prol da comunidade que atendíamos.

Ela entendia que era esta a nossa principal função, como jornal de bairro.

Mais:

Lia e relia o que havia escrito. Conferia nomes, datas, locais e afins. Não queria risco de correr qualquer deslize no texto que entregava para publicação.

Para mim, como editor, era segurança total tê-la como repórter e apoio para o fechamento da edição.

Na dúvida, chamava a Regina e ela resolvia a bronca.

Fiquei no jornal até 2003, a Regina saiu bem antes.

A Gazetinha já não era mais a Gazetinha de antigamente.

Regina preferiu não tocar em frente a carreira.

Dedicou-se a outros planos e, especialmente, à filha Natasha e ao marido Odair.

Ô memória!

Quantos anos faz isso?

Nunca mais soube nada dela.

Na manhã de ontem, eu me preparava para voltar a São Bernardo do Campo, onde moro, estava em São José de Barreiro. Antes de entrar no carro, confiro por conferir, no visor do celular, o que eventualmente me chegou no whatsapp – e me deparo, algo surpreso, com a mensagem em nome do Odair:

“Bom dia, Natasha aqui. Minha mãe fez uma passagem bonita e tranquila ontem. Ouvimos música até a respiração dela ir parando aos poucos. Não sofreu e ficou comigo até o final.”

E o domingo transformou-se em silêncio, tristeza e imensa saudade.

Que Deus a receba em sua infinita misericórdia – e conforte o Odair, a Natasha, amigos e familiares.

4 Responses
  • Leila Kiyomura
    23, outubro, 2023

    Rodolfo que homenagem bonita. Regina será sempre a grande repórter e o ser humano inesquecível. Todos que a conheceram foram presenteados com o seu exemplo de profissionalismo, integridade, mãe e esposa amorosa, dedicada à família, sincera com os amigos e uma fraternidade infinita.
    Ficou o seu legado…

    …para preencher o vazio que estamos sentindo.

    • Sofia Curuci
      23, outubro, 2023

      Muito obrigada pelas palavras, minha tia ficaria imensamente grata por sua homenagem. Ela é inspiração para cada registro dessa vida.

  • Veronica
    24, outubro, 2023

    Meus sentimentos, pra toda família e aos que a conheceram

  • Natasha
    26, outubro, 2023

    meu orgulho, minha mãe…

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