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Sob o domínio do rock

(Prefácio do livro-reportagem Rock Made in Brasil – Impressões Fragmentos, de autoria de: Ana Paula Batista, Carla Mariana, Carolina Tavares, Inês Barreto, Kátia Furtado e Michel Vita, formandos de jornalismo da Universidade Metodista.)

Para mim, parece óbvio.

Na curva dos 50, posso falar de cátedra, o rock hoje não existe como estilo musical, tantas e tais foram as influências que recebeu (e gerou) nesses, digamos, meio século de existência.

Em plagas tupiniquins, então, o que dizer.

Vocês, caríssimos leitores, acham mesmo que, no tal País da miscigenação, o rock-rock resistiria, puro e belo, por muito tempo ao tam-tam dos tambores?

Bastou um ser híbrido entre o samba e a bossa-nova, chamado Jorge Duílio Lima de Menezes, vulgo Jorge Ben, invadir os palcos da Jovem Guarda para que o estrago fosse feito. Diria que ali, naquelas jovens tardes de domingo, nasceram a parceria com Erasmo Carlos (“Menina Gata Augusta”) e o Reino Unido do Samba Rock.

Houve resistência, é claro.

Os puristas da MPB, entre os quais a cantora Elis Regina, expurgaram o compositor carioca da chamada elite cultural – ele não pôde mais participar de O Fino da Bossa, programa comandado por Elis Regina e Jair Rodrigues.

Mas, foi por pouco tempo esse racha.

No ano seguinte, o Tropicalismo, dos baianos Gil e Caetano, determinou a geléia geral de versos, ritmos, comportamentos e afins.

Sob o tacão da ditadura, a MPB bebeu da fonte roqueira, incorporou a guitarra e os cabelos longos e desgrenhados.

Fez mais: promoveu a diversidade, o vale tudo.

Derrubou fronteiras.

Tanto que na década seguinte, o rock incorporou a baianidade de Raul Seixas, tergiversou com a ruralidade de Sá, Rodrix e Guarabyra, eletrificou o cordel pernambucano, experimentou com Walter Franco, filosofou com Belchior e caiu na gandaia com os Novos Baianos.

Os anos 80 saudaram o rock tupiniquim como o hit do momento. Rita Lee zoou bonito e reinventou o rock, com apelos de marchinha carnavalesca. Um estrondoso sucesso. E vieram Lulu, Legião, Paralamas, Kid Abelha, Barão e Cazuza, Cazuza, Cazuza – talvez a mais emblemática figura roqueira da década.

Chegar nos 90 foi um sufoco.

Não há mais limites – e a indústria do showbizz prefere outros gêneros. Mas, como segurar as arrebentações do Mangue Beat (que é moda entre os intelectuais, mas não chegou às rádios), o skank (que bebe da MPB e do reggae), dos tais Hermanos (que são e não são), do rappa (que é outra história). De Cássia Eller, que é visceral como Maysa, transgressora como Cazuza; mas única e indefinível.

Enfim…

Há 50 anos o mundo vive sob a égide do rock in roll. Ninguém entre 8 ou 80 anos, de alguma forma, conseguiu escapar dos acordes 4×4 (é isso?), do som estridente de um solo de guitarra, da transgressão de ser o melhor dos iguais, a rebeldia bem-vinda de ser jovem. Eternamente jovem…

É algo tão presente quanto etéreo na vida de todos nós.

Por isso, fiquei superfeliz quando uma garotada do oitavo semestre de Jornalismo da Universidade Metodfistas de São Paulo me propôs orientá-los no trabalho de conclusão de curso. A proposta era fazer um livro reportagem que se propõe investigar a história desse fenômeno no Brasil, a terra do samba, da bossa nova, do maracatu, da diversidade cultural.

Uma diversidade hoje impregnada de rock. Influenciou e, óbvio, se deixou influenciar. Nunca saberemos quem prevaleceu se o vice ou se o versa?

Mas essa presença é indiscutível.

Quando essa garotada me propôs o tema, fiquei super-feliz. O assunto é mesmo apaixonante e infindo. E cada um deles, percebi logo, me trouxe um olhar diferente sobre o rock in roll.

Melhor: descobrimos que há tantas e tantas formas de cantar e dançar o velho/novo ritmo. Descobrimos que mistérios há de pintar por aí.

Foi um prazer enorme percorrer, ao lado de vocês, esse trecho – importante, creio – desta longa e sinuosa estrada chamada vida.

Não seria exagero dizer que viver – e ser feliz — é mesmo um desafio roqueiro.

Nosso ícone Tony Campello, que o diga e nos ensine…

Amém.