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Tião das Marmitas

Tião das Marmitas acabara de retornar dos Estados Unidos.

Nos últimos anos, não tivera vida fácil em terras de Tio Sam.

Fez um pouco de tudo. De ajudante de cozinheiro a entregador de pizza.

Dinheiro ralo. Viveu como pôde, quase sempre na pior.

Como por natureza e gosto sempre foi do balacobaco, foi inevitável. Logo estava entre os malandros-crocodilos e gangues. Puxou carro, perverteu-se nas drogas, fez e aconteceu até em ir em cana. Era mesmo da pesada…

Mas, era talentoso. Musicalmente, então, um gênio.

Antes de partir no Brasil, chegou até a montar um grupo de rock, com um pessoal da Tijuca. Apresentaram-se na programação vespertina da TV e todos diziam que ele era o tal. Levava jeito pra coisa.

Tião até achava que sim. Por isso, voltou para o Rio de Janeiro.

Voltou também porque ficou sabendo que seus amigos – a quem ensinou os primeiros acordes no violão – eram agora os reis da Juventude. Um retumbante sucesso. Com programa na TV e músicas nos primeiros lugares da parada de sucesso.

Ele não acreditou a princípio. O amigo Erasmo Estevez era parceiro, um cara ponta firme, como se dizia à época. Mas, convenhamos, tinha um fiapo de voz. Aquele outro, que chegou de Cachoeiro de Itapemirim, além de muito estranho, era fanho.

Tião quis ver esse tal sucesso de perto. Pegou um ônibus e veio para São Paulo em mangas de camisa e chinelão. Cabelos desgrenhados e uma rala barba completavam a figura. De aspecto pouco convencional.

Viajou oito horas. Perambulou pela cidade que mal conhecia. Até chegar às portas do Teatro Record, na Consolação. A tal Terra da Garoa fazia jus ao nome. Um frio de lascar — e ele, ali, à espera dos amigos famosos que se apresentavam no programa Jovem Guarda, da TV Record.

Não acreditou na multidão de garotas a berrar pelos ídolos.

Sua vida mudaria a partir daquele encontro. Estava convicto disso. Logo, o nome dele também estaria na boca da moçada. Estava por ali, a tiritar de frio e imaginar-se famoso, quando dois carrões saíram a toda do prédio da Record. Os seguranças se encarregaram de abrir caminho, sem ouvir explicações.

Por que ouviriam logo as dele, um molambo em farrapos. Sem eira nem beira.

Dentro dos carrões, os amigos Erasmo (que agora era) Carlos e Roberto Carlos (o Fanho) nem sequer lembravam-se do Tião das Marmitas.

Ou melhor, Tim Maia. Que tempos depois escreveria versos assim:

“Ah! Se o mundo inteiro me pudesse ouvir.
Tenho muito pra contar.
Dizer o que aprendi.
Que, na vida, a gente tem que entender
Que um nasce pra sofrer
Enquanto o outro ri.”