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Um cara muito especial

Ela entrou no velho prédio como se nunca houvesse partido para novas aventuras.

Aventuras profissionais, diga-se.

Mesmo à distância, dava para se notar. Estava mais sofisticada no vestir, no caminhar e até no falar:

— Boa noite, queridos. Alguém aí ainda se lembra de mim?

Apostaria que, por aquelas baias, entre mesas, computadores e armários, ninguém nunca ousou esquecê-la. E agora, ao menos a rapaziada, percebia que a estagiária se transformara numa mulher como nunca se viu igual por aquelas baias, entre mesas, computadores etc etc.

— Estava passando por aqui a trabalho e resolvi dar um pulinho aqui para rever vocês.

Não precisava explicar. Seria sempre bem-vinda por ali.

A constatação foi a movimentação natural que causou a passagem da bela. As mulheres, que antes já lhe invejavam a jovialidade, até que seguraram a onda. Preferiram saudá-la discretamente, mas os marmanjos atropelavam-se para os tradicionais beijinhos no rosto e os sorrisos e as inevitáveis paparicações.

A menina virara mulher e a deslumbrante mulher virava e revirava a Redação.

Almeidinha foi o único que não saiu de seu espaço de trabalho. Claro que percebera o alegre tumulto e, principalmente, quem o causou.

Aliás, aquela estagiária deixara marcas indeléveis em seu coração.

Mas, nunca se atreveu.

Não seria de bom tom, era o editor.

Já vivera coisas semelhantes em tempos idos. Mas, daquela vez, não sentiu firmeza.

Naqueles tempos que andou por ali, ela o chamava de “professor”, “mestre”, “um cara muito especial” – o que ele entendeu ser uma espécie de chega pra lá.

Ademais, Almeidinha era do tempo em que se dizia “ademais” e que uma paixão não correspondida deixava “marcas indeléveis”.

Sabia também que, mais cedo ou mais tarde, ela seguiria outros rumos – e ele ficaria por ali, onde sempre esteve – uma espécie de móveis e utensílios da Velha Redação de piso assoalhado e janelões.

Mesmo assim, ficou feliz pra caramba quando ela deixou a turba falando sozinha e se aboletou toda-toda na cadeira em frente à sua mesa de editor.

— Atrapalho?

* Amanhã continua…