Recomendam-me que assista ao programa Roda Viva de segunda passada, dia 2.
São amigos queridos, de priscas eras, digamos assim; jornalistas todos.
O entrevistado da vez é o também jornalista americano, Gleen Greenwald, do Intercept Brasil.
Aliás, só por isso entendo o convite e aceito voltar a ver a atração.
Que, diga-se também, foi por longos anos uma das principais tribunas do jornalismo livre e independente.
É provável que seja o programa do gênero mais longevo da TV brasileira.
Só que, de uns bons tempos pra cá, deu uma guinada à direita de envergonhar a quem ainda preza a liberdade de expressão e o bom jornalismo.
Tanto que o cantor/compositor Chico Buarque vetou o uso da música – que deu origem ao título do programa – como trilha de abertura.
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Gleen merece nossa atenção e respeito.
O jornalista tem em mãos – e corajosamente tornou público – um farto conteúdo que mudou (ao menos, deveria) a história deste país.
Só isso basta para ficar atento ao que ele tem a dizer.
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Um olho na TV, outro no celular.
Os amigos querem compartilhar as impressões sobre o que se vê e ouve na telona e, por conta e risco, criam um animadíssimo grupo de WhatSaap na telinha.
Há que se entender.
Como profissionais da área, somos envolvidos com o tema.
Também como cidadãos, o encontro promete ser revelador.
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Diria que foi.
A conversa teclada rendeu um bocado.
Temos aqui um contraponto geracional. Minha turma e o pessoal da bancada de perguntadores selecionados para o programa.
“Não só geracional”, ouso teclar antes mesmo do debate propriamente dito começar.
Não só acrescenta o Poeta:
“Conceitual, filosófico e de postura jornalística”.
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Uai.
Fico ressabiado com a deixa do amigo.
Não conheço a turma de ‘inquisidores’ (ainda segundo o Poeta, nesta noite mais para Profeta) comandada pela titubeante mediadora Daniela Lima, por isso, talvez, me ponha em alerta.
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Alguns minutos de entrevista bastam para a confirmação do que disse o Poeta.
Os perguntadores, um tanto afoitos, tentam emparedar Gleen logo às primeiras perguntas.
As questões são, em essência, monotemáticas e tentam por em xeque-mate a legitimidade da Vaza-Jato.
Os entrevistadores questionam os métodos de apuração e divulgação dos fatos coordenados pelo premiado jornalista.
Não se interessam pelo conteúdo das conversas.
“Estão tentando preservar a imagem do pessoal de Curitiba” – tecla o Marceleza.
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Não demora – e, no grupo, chovem provocações.
“Só convidaram inimigos pra fazer as perguntas?”
“Os coleguinhas estão marrentos hoje.”
“Seriam tão incisivos nos questionamentos se fosse o Moro o entrevistado?”
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Parece coincidência.
No estúdio, um dos entrevistadores faz a pergunta:
“O Sr. acha que o ministro Sérgio Moro pode ser candidato nas próximas eleições presidenciais?”
Gleen:
“Se Bolsonaro foi eleito, qualquer um pode.”
O grupo explode em emojis de aplausos à resposta.
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Alguém no grupo faz a pergunta:
“É impressão minha ou nossos jovens pares desconhecem as mais elementares regras do fazer jornalístico?”
Outro é mais contundente:
“Há quem diga que o jornalismo acabou, mas, pelo que vejo, acabaram mesmo os jornalistas!”
Eis a questão conceitual e filosófica que o Poeta levantou lá no início.
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Acordamos de discutir o tema, noite dessas, na mesa de um boteco qualquer da vida.
Todos concordam, porém:
“O cara (Gleen) está dando uma aula de jornalismo.”
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Coincidência ou não, após o programa, o jornalista Kennedy de Alencar faz um precioso post sobre a participação de Gleen Greenwald no Roda Viva.
Seu título:
Greenwald deu aula de jornalismo e democracia no Roda Viva
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O que você acha?