Fotos: Arquivo Pessoal
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22 – Um dia frio. Muito frio…
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Fui uma única vez a FRANKFURT. Um voo estranho que parecia não ter fim. As condições do tempo não eram das melhores. Saímos de Milão e demoramos uma eternidade para chegar.
Mas, finalmente chegamos. Amém.
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Fazia muito frio na Itália; na Alemanha, então… Em torno de onze graus negativos. Com uma agravante. Nos dias anteriores havia sido pior. Assim que o avião aterrissou, pude confirmar a informação. Uma densa camada de neve se espalhava pelos arredores da pista. Alguém falou em 60 ou 70 centímetros de altura.
Me perguntei desolado:
“O que estou fazendo aqui?”
Em pleno janeiro daquele ano que se perdeu no tempo, verãozaço no Brasil, e eu procurando sarna para me coçar. Ou mais apropiadamente, uma cidade frigorífico para me congelar.
Um programa típico de urso siberiano…
Imaginei que toda a cidade estaria um caos – e me conformei com a ideia de que seria feliz se conseguisse chegar ao hotel, a calefação funcionasse e o tempo da estadia passasse o mais rápido possível.
Seria ainda mais feliz quando conseguisse sair daquele fim de mundo.
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Já a caminho do hotel notei que, apesar da noite fria e inóspita, o táxi – um confortável Mercedes Benz – cortava uma cidade tranqüila. Havia um razoável movimento de veículos. Bares, restaurantes e lojas funcionavam como se nada de anormal estivesse acontecendo.
De fato, o único anormal tiritante ali era eu.
Até aí nenhuma novidade.
Bom, para encurtar a conversa. Tive uma bela noite de sono – e, na manhã do dia seguinte, a primeira coisa que fiz ao acordar foi olhar pela janela para ver o que me esperava. Vi que a neve dera uma trégua, mas ainda cobria toda a extensão de um parque, as margens do rio que corta a cidade e parte das calçadas das ruas, onde crianças caminhavam tranquilamente para mais uma jornada escolar. Tinham capotes coloridos, gorros divertidos e mochilas a estampar os heróis da época.
Eram imagens belíssimas de um mundo que eu desconhecia. Imagens que fizeram com que caísse a ficha do quanto estava sendo tolo. Mesmo assim, precisei reforçar o café da manhã com uma boa dose coragem – e fui à luta.
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Foram dias divertidos a onze graus negativos – pouco mais, pouco menos que não fiquei de olho na temperatura o tempo todo. Até me esqueci dela.
Frankfurt é o que chamamos de uma cidade contemporânea. Organizada, e linda.
Fiz o que tinha de fazer. E mais: perambulei pelas ruas e por aquele e outro parque, visitei o museu Goethe-Haus, algumas igrejas, caminhei as margens do rio Meno, aproveitei as megas liquidações — se me virem com um sobretudo tiposo, foi lá que comprei, viu — e, à noite, me acabei em bons e curiosos restaurantes.
Ô vida. Paguei a língua.
Quando deu a hora de voltar, juro que me arrependi de ter desejado que o tempo voasse como, de resto, sempre acontece.
Queria ficar mais.
Me disseram que a primavera ali é lindíssima.
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* Publicado originalmente em 29/07/2007
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