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Documento de identidade

Toda vez que sou solicitado a identificar-me, não perco a chance. Tiro do bolso minha identidade de jornalista profissional diplomado, com timbre da Federação Nacional de Jornalistas – e toma lá, meu caro, veja aí que eu sou eu e Nicuri é o diabo (saudades do Raulzito).

Seja para abrir um crediário nas Casas Bahia, seja para me aboletar num quarto de hotel deste Brasil de meu Deus, sempre senti um orgulho danado da profissão que exerço há mais de 40 anos. Seja nas redações por onde trabalhei, seja na Universidade, seja no batucar diário dessas maltraçadas, sou jornalista, meus amores, e ponto e basta.

Não há como fugir dessa realidade.

Escova, amigo brincalhão que se esconde no oco do mundo e não o vejo faz tempo, toda vez que via a cena me zoava legal.

“É você ou seu filho na foto da identidade?”

Confesso que não sou de mentir.

A ‘três por quatro’ é bem antiguinha.

Aliás, a validade do documento já está vencida, mas não é isso o que me instiga o gesto.
Primeiro, explico, é bem mais prático, pois no verso há a numeração de todos as minhas demais identificações – RG, CPF, título de eleitor, carteira de trabalho e o escambau.
Segundamente, porque, repito, tenho orgulho etc etc etc.

Acontece que semana passada precisei ir a um desses consultórios bacanudos que ficam nesses prédios modernosos – e, pimba!, a recepcionista me pediu um documento de identificação.

Como de hábito, busquei a bendita, mas…

… Tive um sentimento nunca vivido.

Estava ali a remexer a velha carteira de couro em busca da ‘bichinha’ quando me veio à mente o que os grandes meios de comunicação – jornais, revistas, telejornais e programas de rádio – vêm fazendo neste duro momento para a democracia que o País atravessa e, vou lhes dizer, fiquei constrangido de sacar a dita-cuja e mostrá-la à simpática moçoila à minha espera atrás do balcão.

Sei que há raríssimas exceções – e eu as aplaudo todas pela dignidade e resistência.

Agora, a grosso modo, os coleguinhas das chamadas grandes redações estão fazendo feio, sucumbiram aos interesses do patronato (eita, palavrinha antiga, mas boa de usar nessa hora) e dos que aí estão apostando no retrocesso.

Mas, voltemos à portaria que me atende.

Em segundos pensei nisso tudo. Olhei para a fotinho com a qual o Escova tanto implica e juro que me achei parecido com o Boris Casoy dizendo “é uma vergonha”. Então, tomei coragem e…

Optei por mostrar a habilitação.