Torci por ele diante da TV.
Torci pela vitória do jovem Emílio Santiago como melhor calouro no programa Flávio Cavalcanti.
Nascia ali um baita cantor.
II.
Também eu era jovem – início dos anos 70 – e já adorava música.
Tanto que anos mais tarde, já formado e trabalhando como repórter, tive a oportunidade de entrevistá-lo. Emílio Santiago se apresentaria no Sesc Anchieta para o lançamento do novo disco.
Desconfio que fosse o “Guerreiro Coração”, pela Polygran.
III.
Todos lhe reconheciam talento e afinação.
Era herdeiro direto da nossa nobre linhagem de cantores/cantores. Que não compunham, cantavam exclusiva e lindamente. Orlando silva, Nélson Gonçalves, Cauby – só para ficar em alguns, os prediletos de Emílio.
No entanto, sua carreira não decolava.
Esse era o quarto ou quinto disco do rapaz, mas o sucesso lhe escapava pelos vãos dos dedos.
Inclusive nós, jornalistas da área, conversamos sobre essa questão enquanto o aguardávamos para a coletiva.
— É mesmo a chance de acertar o repertório. Estilo como cantor, ele tem – disse um de nós. (Não tenho certeza, mas, justamente agora me veio a lembrança do Dirceu Soares que escrevia para a Folha de S.Paulo.)
IV.
Não sei se ouviram a dica do saudoso jornalista. Provavelmente não. Mas, ele estava rigorosamente certo. Anos mais tarde, o projeto Aquarela Brasileira, pela Som Livre, mostrou ao grande público quem era verdadeiramente o grande Emílio Santiago.
Foi um êxito e tanto, de repercussão nacional.
Ao todo, foram sete discos em sequência, de 1987 a 1995 – todos de sucesso indiscutível e uma bem-sucedida retomada ao tema em 2005, com As Melhores das Aquarelas.
V.
Mas, naquele longínquo fim de tarde, antes que tal acontecesse, fez-se um pesado silencio quando o negro esguio, elegante, de terno branco desestruturado, entrou pela improvisada sala de imprensa. Sentou-se na poltrona em frente da gente, com jeito simples – e esperou pelas perguntas que demoravam a acontecer.
Desconfio que, cada um à sua maneira, tínhamos a mesma dúvida: por onde começar?
De algum modo, uns mais outros menos, estávamos com a pergunta engatilhada, mas temíamos constrange-lo.
VI.
Foi quando se ouviu a voz suave de Emílio, tomando a iniciativa:
— Cadê as perguntas, amigos? Fiquem à vontade. Perguntem o que quiserem. Antes, porém, permitam agradecer a presença de todos. Uma honra tê-los aqui.
A educação, a elegância, a nobreza não eram só características do cantar de Emílio Santiago.
Era o seu estilo de viver…
VII.
Um ser humano iluminado.
Vai fazer falta!