Sign up with your email address to be the first to know about new products, VIP offers, blog features & more.

Lembranças e sermões…

Foto: arquivo pessoal

– Qual a primeira lembrança que você tem da vida?

O apresentador do talk show faz a mesma pergunta às celebridades que estão presentes.

Elas riem e se põem a pensar sobre a questão.

Vi esta cena, dias desses, não sei em que canal de TV por assinatura.

A princípio, me fiz de indiferente, mudei de emissora e segui à cata de alguma atração que preenchesse o vazio daquela noite.

Enquanto acionava em vão o bendito controle remoto, me surpreendo remoendo uma resposta para a tal pergunta que, diga-se, não me foi feita.

Eita, sô, olha o enrosco.

Lá vou eu abduzido pelo túnel do tempo.

Vem comigo…

Devia estar no primeiro ou segundo ano do Grupo Escolar Oscar Thompson, no Cambuci.

Eu, genioso desde então, não gostava de levar a lancheira. Aquela correia trespassada no peito me incomodava. Frise-se que a tal era de couro.

Então, a Dona Yolanda, minha mãe, acomodava o lanche na mala (também de couro) devidamente embrulhado, com todo o cuidado.

Não tenho ideia das especiarias que levava.

Só lembro que, certa vez, cismei de eu mesmo fazer meu lanchinho. Ao invés de pão com qualquer coisa, bolachas ou maçãs. Resolvi diversificar e, sem que a mãe visse, enfiei dois caquis num dos compartimentos da bolsa e lá fui eu todo-todo.

Bem, o resultado não preciso dizer…

Mas digo:

Foi uma meleca generalizada que se espalhou por livros e cadernos e um sermão materno daqueles que ouvi calado e pra lá de arrependido.

Aí, eu já tinha uns sete, oito anos.

Tenho outra lembrança que é anterior, do Jardim da Infância.

Haveria um teatrinho de Natal na escola – e eu seria um dos garotos que fingiriam dormir enquanto o Papai Noel depositaria os presentes ao lado da cama.

A mãe até comprou um pijama novo para a minha portentosa estreia na vida artística.

Eu deveria ficar quietinho na cama, de olhos fechados, esperar a música acabar e assim que a outra música começasse todos despertaríamos – e em festa um a um iríamos abraçar o homem de vermelho.

No dia combinado, no horário aprazado, bateu uma pane descomunal. Não houve cristão, ordem de mãe ou insistência da professora que me fizesse subir aquela escadinha mambembe que levava ao improvisado palco.

Não fiquei nem para ver o espetáculo.

Dali, do que hoje chamam de coxia, voltamos direto pra casa.

E tome sermão na orelha…

Teve outro episódio, creio, que foi antes desse.

Teria uns três ou quatro anos.

Outro vexame.

Fazer o quê?

Veio um fotógrafo em casa. Faria o registro para a posteridade dos bacaninhas da família, as manas e eu.

Era um tipo de foto padrão que os pais, depois, enquadravam e colocavam na parede da sala.

Muito comum à época.

A ciência toda consistia no seguinte: seríamos fotografados separadamente, com dedinho no rosto, olhinhos virados, sorrisos e outras poses. Depois ele escolheria as melhores imagens, faria recortes adequados e as juntaria num só retrato.

Também não topei a brincadeira. Virava a cara, tirava o boné, chorava que só.

(Desconfio que não houve acerto para o cachê.)

Mas, o lambe-lambe, mesmo assim, conseguiu fazer um registro.

O quadro final traz sete imagens. Três de cada irmã, todas graciosas – e a minha ao centro, na maior contrariedade. Com cara de poucos ou quase nenhum amigo. E chorando…

Não lembro se houve sermão, – que, aliás, continuaria ouvindo vida afora. Com ou sem choro.

Fazer o quê?

Decididamente não nasci para ser certinho.

Um adendo: o programa era o Que história é essa, Porchat?, exibido pela GNT, às terças, 22h30.

 

Ainda nenhum comentário.

O que você acha?

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *