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O Golpe – 2

VI.

“Alô, alô, o seu Repórter Esso informa em edição extraordinária… O presidente do senado, Auro de Moura Andrade, acaba de declarar vaga a Presidência da República, em pronunciamento realizado na tribuna do Congresso. Logo em seguida, fez o encerramento da sessão…”

A conspiração pela queda do presidente Jango Goulart havia alcançado seu objetivo. Jango ainda estava em território brasileiro – voara de Brasília para o Rio Grande do Sul, em um episódio nebuloso, ainda pouco esclarecido pelos historiadores.

Prudência do então presidente para evitar “o derramamento de sangue dos inocentes” ou um enorme equívoco de estratégia, o fato é que as manhãs de abril chegaram com as notícias do Golpe.

A posse do presidente da Câmara Ranieri Mazzilli, todos sabiam, foi temporária. Logo uma junta militar assumiria o Poder para jogar o País num dos períodos mais tristes da sua história.

VII.

A população foi tomando contato com a nova realidade na base do conta gota. Uma notícia aqui, outra ali. Não havia todo esse circo midiático de espetacularização da informação, nem o tal do imediatismo como regra básica do jornalismo.

Houve quem disse que os tanques saíram às ruas, numa demonstração de força dos novos senhores do Brasil.

Se saíram, logo retornaram.

Não houve luta.

Para ser bem sincero, o sentimento que lembro na família foi de alívio.

Todos – os civis – temiam a luta armada.

Mas, a vida seguiu sua trilha de aparente normalidade.

E aquele estoque de alimentos foi devorado com o passar dos dias. Especialmente aos domingos, quando era comum todos se reunirem para um grande almoço em família, saudando os dias de paz.

Ressalto: de aparente paz.

VIII.

Abril de 2016. 52 anos depois.

O País vive outros dias de turbulência. Coincidência ou não, as mesmas cenas se repetem entre março e abril. Os mesmos atores políticos – só os nomes e siglas partidárias mudam – se defrontam.

Apostam que tudo irá mudar com um novo-velho governo.

Logo teremos dias promissores e almejada paz.

Não é tão simples assim.

Qual o preço desta paz?

É o que eu temo…