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O injustificável

Passo o dia a me justificar. Pelo Palmeiras, meu time do coração. Pelo Carlos Heitor Cony, um dos meus autores prediletos.

O Palmeiras, todos sabem a fase que anda. Perdeu quatro seguidas. Está na iminência de ser desclassificado da sonhada Libertadores, faz um papelão no Paulistinha, é o último do seu grupo, além de sofrer o risco do rebaixamento.

Que horror!

Como a sina dos palmeirenses, não vem de hoje. Tiro de letra as brincadeiras dos amigos, relevo as provocações dos inimigos e vida que segue. Vesti uma camisa verde, e vim trabalhar na boa.

O que está difícil explicar é a coluna de ontem do Cony na Folha de S.Paulo. O homem se pôs a falar da Páscoa, origem, história, e várias citações. “Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé”, escreveu ele citando São Paulo e por aí foi até o parágrafo final da crônica, onde sapecou sem cuidados: “Agnóstico por convicção, gosto de comemorar as duas páscoas. Evito o terrível cativeiro de me tornar refém de Dilma e Lula. Desejo que ambos se f…”.

II.

Li e reli a frase final algumas vezes – e não acreditei.

Depois apenas sorri. Imaginava que o anarquista Cony, mesmo aos 90 anos, mais cedo ou mais tarde, aprontaria alguma.

Sei que o momento não é dos mais oportunos. Especialmente porque os ânimos andam mais do que exaltados. Fui persona non grata em vários grupos que reencontrei neste fim de semana prolongado.

Decidi não falo mais em política.

Só que aí veio a crônica do Cony – e o pessoal agora me cobra a indesculpável baixaria daquele final de crônica que, seguramente, vai constar da antologia dos piores momentos do jornalismo brasileiro.

III.

Não sei se vocês assistiram a um dos mais belos filmes de Woody Allen, Crimes e Pecados, de 1989.

Vou resumir um dos trechos.

O personagem central Cliff, interpretado pelo próprio diretor, passa longos anos de sua vida a filmar o depoimento de um ilustre filósofo a quem ele (Cliff) admira e que, a partir dessas divagações, eternizadas em película, o mundo ficará bem melhor.

Certo dia, Cliff está ao lado da mulher amada (Mia Farrow) a editar um dos tantos quantos depoimentos do filósofo/guru quando recebe a notícia que o próprio acabara de se suicidar. Pulará do décimo andar dom prédio onde morava.

O cineasta olha para as latas de filmes ao seu redor – e fica inconsolável. Mesmo assim, não resiste à observação:

“Nem um bilhete o miserável deixou para explicar a própria morte.”

Lembrei-me dessa cena, hoje, todas as vezes que precisava explicar o inexplicável aos amigos.