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O juramento

Fotos: Jô Rabelo

Vamos chamá-los de Tico e Teco.

Assim evitamos constrangimentos outros.

(A cena nos parece comum nos dias que correm.)

Pois, então, os brothers se desentenderam no grupo de whats da família.

Questões ideológicas?

Soube por alto da história e do distanciamento nada social que ambos impuseram um ao outro.

Eram parceiros de longa data.

Dividiam fraternamente a cerveja, o aperitivo e as conversas.

Mas, o diz_que_diz das redes sociais, conversinhas outras, tolas e desajeitadas… De repente, não mais que de repente, deixaram de se falar.

Sobrou o climão.

Cancelaram-se mutuamente.

Alguém de boa índole resolveu reaproximá-los.

(Sim, até no web espaço, existe a turma do deixa_disso.)

Fez a ponte entre os dois que, a princípio, se mostraram reticentes.

Toparam se encontrar num parque ao ar livre, repleto de árvores e até um riachinho artificial. Com máscaras, álcool em gel, mantendo a distância apropriada, essas coisas todas que nos impõe o  protocolo do novo normal.

Foram exigências do Tico.

Para as quais, diga-se, o Teco deu de ombros.

Tico foi o primeiro a chegar devidamente paramentado nos conformes com o que diz a cartilha do Dr. Dráuzio..

Estava um pouco aflito.

(Não sei o que andou lendo no Insta do Teco.)

Trazia, numa folha de papel, tópicos de assuntos que deveriam nortear a conversa

– Independente de que lado cada um esteja, ser tolerante com o pensamento contrário.

– Observação importante:  quem somos nós na fila da vacina para lacrar isso ou aquilo, não é mesmo?

– Há certos princípios e valores, dos quais não se abre mão.

– Falei que aquele lugar é um hospício por tudo que leio e ouço na imprensa, mesmo não querendo ler ou ouvir.

(A propaganda é massificante. )

– Esclarecer, porém, que nem todos ali batem os pinos.

– Há os vivaldinos, os espertos, os aproveitadores. Querem se dar bem.

– Essa, aliás, parece ser a lógica do jogo, pois quaisquer regras e normas são atropeladas.

–  Claro que incluo nesse bololô os que estão no comando.

– São esses, aliás, que põem pilha e animam a coisa toda. Sim, estão na deles. Faturam em cima.

– Não levar em consideração essa história de que dá um IBOPE danado, bombam nas redes sociais, é um fenômeno de comunicação.

– E,  por fim, mas não menos importante, ressaltar que se trata de um espelho da nossa sociedade fragilizada e, em muitos momentos, sem rumo, ávida pela notoriedade, pelo celebricismo barato.

Na papeleta que Tico rascunhou havia ainda a citação de Voltaire ou a ele atribuída:

Posso não concordar com uma palavra do que dizes,

Mas defenderei até a morte o direito de dizê-la.

Tico não sabia se começava por aí.

Ou a deixava de stand by para eventual emergência.

Estava ruminando essa dúvida existencial no instante em que viu Teco embicar seu focinho desprotegido na portaria do Parque. Tinha um sorrisinho, daqueles irônicos, bem cínicos.

– Cadê a máscara?

Tico foi logo perguntando.

Teco não perdeu a pose de quem se sente no comando e conta com a intervenção de forças outras para mostrar a que veio.

Caprichou na desculpa esfarrapada:

– A máscara? Justamente por isso que me atrasei. Saí para comprá-la. Mas, não achei uma farmácia no caminho e aí lembrei o nosso aponto e esqueci a máscara. Mas, tudo bem, não? Sou um ex-atleta e me cuido…

Não é que o figura improvisou uma flexões ali mesmo no parque.

E arrematou:

– Estou em forma. Ah, Ah, Ah…

– E daí, Ticão velho de guerra? Na hora H, no dia D, não diz nada?

Tico desacreditou do que acabara de ver.

Riu da palhaçada do amigo.

Balançou a cabeça – e lhe perguntou:

– Como vai a família? Dona Teca, o Tequinho, a Tequete… Todos bem?

Pra si mesmo, porém, fez um solene juramento:

Nunca mais discutiria com o amigo aquela tolice de quem deve ou não deve ganhar o BBB deste ano.

Que bobagem!

 

 

 

 

 

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