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O rosto da velha

Logo reconheceu Jandira.

Ao levantar o braço, num aceno, recuou.

Sua mão quase tinha alcançado o rosto da velha que ficara sentada ao seu lado, durante a viagem da barca (Rio/Niterói). Ela o fitou, e em seus olhos desolados e cruéis não havia domingos.

José teve a impressão de que, um dia, muitos anos depois, haveria de lembrar-se daquela velha. Diluída em sua memória, ela retornaria, num futuro distante, com todas as coisas passadas e perdidas. E, para que ocorresse a ressurreição daquele olhar desenganado, seria necessário que a vida o ferisse e o humilhasse.

O tempo é o lugar que os homens escolheram para morrer.

José avançaria no espaço das horas e dos dias até encontrar, de novo, o olhar imóvel que enxergara as mentiras e os enganos do mundo.

* Trecho de “As Alianças”, de Lêdo Ivo, lançado em 1947, que reli no fim de semana prolongado e me impressionou pelo rol dos personagens e a detalhada descrição do Rio Antigo.