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Os amigos do pai e o aumento dos ministros

“Ministros do STF querem aumentar
os próprios salários para 35, 9 mil reais”

(Ganham só 29,4 mil – estão com os proventos defasados)

Upalelê.

Uma notícia como essa era suficiente para que o pai e os amigos fizessem do ponto de encontro da turma de aposentados um verdadeiro plenário de debate sobre os problemas do País.

Antes de continuar, esclareço que esses senhorezinhos batiam ponto todos os dias na esquina da rua Oragnoff com a avenida Álvaro Guimarães, no bairro do Planalto, em são Bernardo do Campo.

Vagavam entre os setentas e muitos e os oitenta e poucos.

Era divertido estar com eles. Além de ouvir velhas histórias, lembranças de um tempo menos estressado e aparentemente mais humano, havia discussão inflamada dos assuntos do dia, ora extraídos das manchetes dos jornais, ora advindos de algum comentário no Jornal da Tosse, lembram?

Cabe outro parêntese: o Jornal da Tosse era o telejornal que a Record levava ao ar diariamente comandado por Hélio Ansaldo, com a presença de jornalistas veteranos que discutiam as notícias.

Nem sempre os velhinhos se entendiam.

Havia malufistas convictos, os que defendiam Mário Covas e ‘os extremistas’ do PT daquela época (o Velho Aldo, meu pai, estava entre esses). Depois que o então presidente Fernando Henrique Cardoso chamou os aposentados “de vagabundos” passou a ser figura non-grata entre todos.

Além da amizade que, desconfio, hoje não me parece mais as mesmas, este era o ponto que os unia: a luta por um salário digno para os aposentados.

Eu os provocava, dizia que “legislavam em causa própria”.

Uivavam contra a injustiça que lhes faziam os poderosos de então – e os de sempre, pois nada muda ao sul do Equador – quando o governo anunciava dois tostões de aumento e dizia que não poderia dar um aumento maior para não quebrar o INSS.

Em contraponto, quando viam uma notícia como a que abre a nossa conversa de hoje (e que infelizmente são mais comuns do que deveriam ser ) de portentosos aumentos para as diversas instâncias públicas, ficavam tristes que só – e em silêncio.

Ficavam desalentados. Como se perdessem a esperança no futuro País.

Nessas ocasiões, eu não os provocava.

Concordava com eles. Aliás, como ainda hoje concordo…