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Sete tons de azuis (2)

– Na Ilha, me chamam de Caramelo. Mas, meu nome é Carmelo.

Eu acabo de conhecê-lo. É um negro esguio, aí por volta dos 30 anos. Que se aproxima do píer onde ainda estou [vendo a tarde se por diante dos sete tons de azuis do mar da Ilha de San Andrés].

Ele nasceu aqui e, como quase todos, vive do que o turismo lhe proporciona. Já foi barqueiro (“era bem divertido”), trabalhou em hotel (“odiava usar aquelas roupas”), em restaurantes (“gostava das gorjetas que recebia”), entre outras funções. Agora, diz ele, tem um negócio próprio. Vende miçangas e colares artesanais pelas praias e ruas comerciais.

Carmelo e a jovem mulher fazem os adereços (“mais ela do que eu”) à noite e, pela manhã, ele sai à cata de compradores, os turistas que visitam o lugar, “especialmente as moças bonitas”.

– Melhor assim, sou meu próprio patrão – e me sinto mais livre. Por enquanto, está bom. Aqui na Ilha, se vive um dia de cada vez.

II.

A bem da verdade, ele só veio até o píer porque havia um bando de jovens por aqui, com suas máquinas e celulares a fotografar tudo o que se via, inclusive e exageradamente a eles próprios.

Tentou vender seus artesanatos, mas não lhe deram atenção, Nem sequer o preço lhe perguntaram. Poderiam ao menos pechinchar, como é regra se fazer por essas bandas.

Trocou algumas palavras em inglês, com uma das moças. Depois, sentou-se na beira do píer, rindo, e puxou conversa:

– É, Brasil, vocês são bem divertidos. Gostam de falar em inglês com a gente. Só depois assumem o portunhol.

Desconfiei que o “Brasil” era eu. E quis saber: como soube que era brasileiro?

– Ora… Como lhe disse, vocês são divertidos, simpáticos, têm um jeito próprio de andar e, principalmente, nos olham como iguais.

– Ah! As mulheres são mui guapas, salerosas.

III.

Enquanto Carmelo ria maroto, eu me contento com a definição anterior.

Nem tudo está perdido, penso.

Em nosso País, vivemos um momento terrível, divisionista, com o avanço do conservadorismo. No íntimo, torço para que a percepção do moço ao lado seja mesmo uma verdade promissora. Tomara estejamos passando por uma transição, mas, no fundo, o brasileiro continua sendo “um homem cordial”, no dizer do historiador Sérgio Buarque de Holanda, o pai do Chico.

Quero retribuir o interesse generoso e amigo de Carmelo, então peço a ele que me fale da Ilha, a história, os pontos turísticos, como é viver aqui, essas coisas.

– Outra hora, Brasil. Preciso vender meus colares. Como lhe disse, na Ilha se vive um dia de cada vez.