Um fim de tarde que entrou para a história do bar do Veloso, no Rio de Janeiro. Meados de 1966. Tom Jobim e amigos dividem uma mesa (a de sempre), os chopes e outras bebidas, além de risadas e tantas histórias.
De repente, não mais que de repente, aparece o garçom do dia e, com alguma cerimônia, interrompe a conversa, com o que parece ser um importante recado:
– Seu Tom, tem um telefonema internacional para o senhor. Dos Estados Unidos. O homem se identificou como Frank Sinatra e precisa lhe falar.
Tom Jobim solta um sonoro palavrão e, entre o riso de tos ali, pede ao rapaz para deixar de brincadeira e despachar o impostor.
O garçom insiste.
– É sério…
Tom não se altera:
-Vá amolar o outro.
O rapaz bem que tenta se desvencilhar da ligação. Mas, não consegue (sabe-se lá se o cara do outro lado da linha cantou “My Way”, com aquela voz inconfundível).
Volta à mesa, onde está Jobim e a turma e o convence o maestro a ele próprio despachar o abusado.
Contrariado, Tom Jobim atende e ouve uma verdadeira declaração de amor às suas canções. Sinatra foi direto ao assunto: entre todos os autores que pesquisara para um novo disco, Jobim era o que de melhor havia naquele período. Queria gravar um disco inteiro com sua obra.
Assim nasceu o festejado “Francis Albert Sinatra e Antônio Carlos Jobim”, um dos grandes momentos da música popular brasileira.
E lá se vão 50 anos, ou quase…
•Ouço a história na entrevista de Edu Lobo ao programa de TV do jornalista Roberto D’Avila, na Globo News. Eu já a conhecia. Quem me contou, lá nos mais longínquos dos anos, foi o amigo Artúlio Reis, então assessor de imprensa da RCA Victor, uma figuraça cheia de causos e canções. Artúlio gostava de compor – e se regozijava de ser parceiro de Luiz Ayrão, no samba “Saudades da República”.
Curioso como funciona nossa mente: a história de Edu Lobo lembrou Tom Jobim que citou Sinatra que me lembrou o amigo Artúlio que há tempos não vejo.
E eu fiquei triplamente nostálgico… Por Tom Jobim, por Sinatra, e pela amizade do Artúlio. Tomara que ele esteja bem!