* Aos formandos de jornalismo da turma "Evaristo Costa", do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo
Boa noite a todos…
Não preciso dizer, mas digo: é um momento muito bonito, muito honroso, estar aqui com vocês, nesta cerimônia, compondo a mesa ao lado dos amigos, aqui, da Metodista.
Deixo para os nobres oradores a discussão sobre o jornalismo e seus desafios neste mundo afogado em informações.
Trago-lhes três histórias como pauta deste modesto pronunciamento.
A primeira que vivi; a segunda que vi; e a terceira que espero ver.
Vamos lá…
(…)
A primeira aconteceu lá nos idos dos anos 70 quando eu era aluno de jornalismo da USP e morava no Ipiranga e trabalhava em Guarulhos, periferia de Guarulhos –Grupo Escolar Jardim Moreira, é mole?
Nessas idas e vindas, acabei no limite de faltas à aula do professor Egon Chaves, senão me engano era Antropologia da Comunicação.
Antes que a corda arrebentasse de vez, tomei coragem e fui falar com o professor para que fosse compreensivo com os meus atrasos e eventuais faltas.
O professor foi objetivo – e luminar – na resposta.
Disse ele:
“Entendo perfeitamente sua situação, meu rapaz. Mas, se você não estiver em aula, tenho que lhe dar falta. É meu dever.”
E acrescentou:
“Repare, somos as nossas escolhas.”
Entendi o recado, e estava saindo de fininho, quando ele completou, sem alterar a voz e levantando os olhos por trás dos óculos de aros redondos e finos:
“Somos as nossas escolhas, mas pagamos pelos nossos equívocos”.
(…)
A segunda história é a que vi.
Boni, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho lançou há coisa de dois, três anos um livro autobiográfico e, para divulgá-lo, passou por diversos programas de televisão. O Roda Viva, da TV Cultura, foi um deles. Durante o programa, um dos jornalistas-entrevistadores fez duras críticas ao momento atual da TV brasileira e perguntou ao Boni o que ele faria para mudar o que hoje aí se vê.
Boni também simplificou a resposta. Disse que, quando ele mudou os rumos da TV brasileira com a criação da programação da TV Globo ao lado de Walter Clarck, lá nos anos 60, ele, Boni, tinha 29 anos e o Walter Clarck tinha 30.
E concluiu:
Hoje este é o desafio das novas gerações.
“Eu acredito na rapaziada”, concluiu.
(…)
A terceira história, a que eu gostaria de ver – e estou certo que verei… Tem vocês como protagonista do novo fazer jornalístico. Estou convicto que farão as escolhas adequadas – que nem sempre são as mais rentáveis ou as mais exitosas, e sim as mais autênticas; sempre com o objetivo de que, por meio do nosso empenho e trabalho, se construa um mundo melhor, uma sociedade mais
justa e, principalmente, mais solidária e fraterna.
Que apostem nos tais pilares do jornalismo: a ação transformadora, a defesa do bem comum e sobre tudo o esclarecimento da opinião pública com a defesa da verdade factual.
Ops…
Cá estou falando de jornalismo.
Quando eu queria mesmo lhes falar de vida real e de sonhos. Sonhos que se sonham juntos e se transformam em realidade…
Desconfio que falamos da mesma coisa.
Se não houver utopia, se não houver sonho, não há jornalismo…
Eis o caminho.
Sejam felizes.
E obrigado!