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8 ou 800

Quando comecei a blogar, ouvi de um amigo a profecia:

— Não dura oito dias a brincadeira. Também passei por isso…

Foi em setembro de 2006.

Hoje completo 800 posts – e ainda não estou certo
que o amigo profeta esteja tão errado assim…

De qualquer forma, vale celebrar o feito.

Para tanto, trago-lhes hoje ilustres convivas.

FERNANDO SABINO:

Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante na esquina, quer na palavra de uma criança ou num incidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, lanço um olhar para fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica…

* em A Companheira de Viagem

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE:

Nunca podia imaginar que fosse tão agradável a função de contar histórias, para a qual fui nomeado por decreto do Rei. A nomeação colheu-me de surpresa, pois jamais exercitara dotes de imaginação, e até me exprimo com certa dificuldade verbal. Mas bastou que o rei confiasse em mim para que as histórias me jorrassem da boca à maneira de água corrente. Nem carecia inventa-las. Inventavam-se a si mesmas.

* em Histórias Para o Rei

RUBEM BRAGA:

E considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas, andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se fragmenta como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas. Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.

* em O Pavão

MANUEL BANDEIRA:

Ver-te e amar-te, Vera Marta,
Obra foi de um só momento.
Nada mais ponho na carta:
Não é preciso, nem tento.

* em Vera Marta

MACHADO DE ASSIS:

Quero deixar aqui, entre parêntesis, meia dúzia de máximas das muitas que escrevi por esse tempo. São bocejos de enfado; podem servir de epígrafe a discursos sem assunto:

Suporta-se com paciência a cólica dos outros.

Matamos o tempo; o tempo nos enterra.

Um cocheiro filósofo costumava dizer que o gosto da carruagem seria diminuto, se todos andassem de carruagem.

Crê em ti; mas nem sempre duvides dos outros.

Não se compreende que um botocudo fure o beiço para enfeita-lo com um pedaço de pau. Esta reflexão é de um joalheiro.

Não te irrites se te pagarem mal um benefício: antes cair das nuvens, que de um terceiro andar.

* em Memórias Póstumas de Brás Cubas

Ops!

Só mais um recadinho.

Volto na segunda.

Como disse, o amigo não estava tão errado assim…

* FOTO no blog: Jô Rabelo