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A caminho de casa…

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Foto: Jô Rabelo

Mundo, mundo, vasto mundo.

Como não me chamo Raimundo, não tenho rima, nem solução.

Mesmo assim, sigo adiante. A caminho de casa.

Reclamar do quê?

Sejamos otimistas, meus caros.

Tenho lá meus motivos.

Querem ver?

A moça do banco me atende com um sorriso. Solicitamente. Resolve minhas pendências e, à saída, me deseja “um ótimo fim de semana”.

Retribuo.

– Pra você também.

Só então ela se lembra de pedir que eu lhe dê “uma boa avaliação” no aplicativo.

Por que não?

O senhor da farmácia, que mede minha pressão, dia sim, outro não, sai à porta para perguntar, simpático, se estou bem.

Faço que sim com o gesto do polegar pra cima.

Passo em frente à padaria, e recebo um “bom dia” da moça do caixa.

Digo que mais tarde volto para pegar o pão nosso de todo dia. Que é praxe.

Como é meu ritual, paro na banca de jornal para ver as manchetes e o vistoso colorido das capas das revistas. Raramente compro algo.

O jornaleiro me cumprimenta respeitoso e parece gostar da minha presença por ali. Certa vez, me disse compreensivo que só:

“O mundo é digital. Mas, amo isso aqui.”

Achei bonito.

Me fez lembrar o Velho Braga numa crônica inesquecível:

“Glória ao padeiro que acredita no pão.”

Todos deviam amar o ofício que têm.

É fundamental.

Salah, o barbeiro que veio da Síria, ainda tropeça no idioma brazuca.

Mesmo assim, gosta de falar da própria trajetória até chegar ao Brasil. São histórias de conflitos, separações e, que bom!, muitos encontros e reencontros.

Nossa conversa tem com o trilha sonora aquelas canções típicas do Oriente, dolentes, tristes, tangidas pela emoção e algum sofrimento.

“Amo este país” – ele me diz, com olhar que se perde no infinito.

De novo, na rua…

Dou um trocado para jovem mãe que, andando entre os carros no semáforo, pede ajuda com o filho bebê no colo.

Fico pensando nas palavras do Salah e na batalha diária e particular de nossa gente mais humilde para sobreviver.

Somos refugiados em nosso próprio país.

Difícil, mas não perdemos a fé.

Querem um exemplo?

Perto de casa, há um canteiro de obras.

Estão revitalizando uma praça, acho.

O pessoal da obra está reunido. Chama minha atenção o vozerio, as risadas.  Me enturmo fácil. Querem fazer um bolão pra mega sena de amanhã.

Um deles me convida para entrar no jogo.

“Vai que a gente ganha como aquele pessoal do PT, em Brasília” – diverte-se o que me parece ser o mais prosa deles.

Topo a parada.

Mais pelo bom astral da turma do que pelo improvável prêmio.

Nem tudo está perdido.

Olhem que, na faixa de pedestre, os carros param, respeitosamente, para que eu possa atravessar, com meus passos lentos e arrastados.

Só um imprudente motoboy passa a milhão…

E, amém Jesus, longe de mim.

Ufa!

1 Response
  • clarice falasca
    21, setembro, 2019

    A fé que move montanhas é a que não vê obstáculos, mas desafios. Saber observar é sabedoria. Lindo texto mestre

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