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A cisma

Como vou lhes contar a história desses dois?
A bem da verdade, não há história alguma.
Nada aconteceu.

Diria que é só uma cisma.

Mas, o meu interlocutor, recostado
no balcão do bar do hotel em Madrid,
jura que é real e por isso faz questão
de contar timtim por timtim
o que acontece e lhe tira
o sono e a almejada paz.

Coisas do coração, vocês podem
imaginar – e estão certo
nos devidos prognósticos.

II.

Aliás, o próprio reconhece o quanto
ele e ela andam distantes – sol e lua.
O quanto são diferentes – rio e mar.
O quanto estranham quando se
surpreendem a pensar um no outro.
Vale e montanha, céu e estrela,
a flor e o vento.

Conheço os dois. Combinar, combinar
não sei não se combinam. Talvez sim.
Cada qual a seu modo, no seu canto,
no seu espaço, no ritmo do tempo –
implacável senhor dos destinos.

III.

Mesmo assim, ele acredita que é possível.
Não me diz como, nem onde…
Mas, não serei eu a lhe roubar o sonho…

Diz que não é uma certeza absoluta.
Mas, reforça que é uma certeza – dessas
que só o baticum dos corações apaixonados
sabem harmonizar em doce espera.

— Nem tão doce assim, eu lhe disse.

E sapequei a pergunta que não quis calar:

— Saberia esperar? Até quando?

IV.

Em resposta, recebi um sorriso
bobamente esperançoso.

Sorri também e balancei a cabeça
num gesto de “então, amigo, o que fazer?”

Estava decidido: ele esperaria.

Foi então que, depois de um gole
mais prolongado, tomou coragem
e me confessou em tom de pergunta
que eu não soube responder:

— Como não esperar?
Ela é linda, linda, linda.
E sabe o quê mais?

— Não.

— Ela se chama Maria…