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A fé que nos alcança

"Entra ano, sai ano e nada vem. E o sertão continua ao Deus-dará. Mas, se existe um Jesus no firmamento, cá na Terra isso tem que se acabar" (Gilberto Gil)

01. Não, caro leitor, não é do bairro a notícia que comento a seguir. Mas, penso que deixar de registrá-la aqui neste espaço seria perder o assunto da semana — e que, sabe-se lá, a projeção que o tal fenômeno pode alcançar. Sem dúvida, reflete bem a alma de nossa gente — e penso que mais: reflete o quanto esperamos que alguém interceda por nós, estenda a mão e, de algum jeito, diga lá: vem comigo. Que o tempo de chorar acabou. Agora é ser feliz…

02. Vi na TV, ouvi no rádio sobre a suposta imagem de Nossa Senhora que apareceu no vidro da janela de uma casa comum em Ferraz de Vasconcelos, aqui mesmo na Grande São Paulo. Não é nada grandioso, nítido. Mas, vê-se lá, forjado com suavidade num pequeno retângulo, o espectro de alguém especial, com aureola e as mãos justapostas, como se estivesse a orar por nós.

03. Apareceu no domingo e continuava lá, pelo menos até ontem, quando redigia essas maltraçadas linhas. Uma série de intrepretações já foram dadas ao fato — efeito da mudança de temperatura ou de algum produto de limpeza. Talvez uma deformação do próprio vidro. Mil e uma versões podem explicar sem grandes mistérios a "aparição". No entanto, centenas de pessoas permanecem em frente à casa se emocionam, choram, rezam, pedem alívio para suas dores e abrigo para os seus sonhos; um lenitivo para esses dias arrastados e tristes. Tempo de desesperança.

04. Alguém lembra da novela Roque Santeiro? A ficção copia a realidade que lá um dia inspirou a ficção e assim a vida por esses trópicos continua. Seria bom que esse pessoal que hoje concorre a cargos públicos — especialmente governadores e presidente — atentasse para o fato — e o que pode nos ensinar. Há tempos, os poderes legalmente constituidos têm virado às costas às necessidades mais preementes de quem só pretende viver dignamente. Há tempos, esses senhores, surdos à voz rouca das ruas, se propõem a dizer belas palavras, pronunciar notáveis discursos. "Enfeitam o pavão" para americano ver, enquanto o povão vai quebrando pedra, rolando as dívidas e, quando pode, ri da própria tristeza.

05. Aprendemos — antes mesmo da canção consagrar — a andar com fé que, ao menos esta, não costuma falhar. Mas, cá pra nós, embora nos entendamos como "um país abençoado por Deus", sinceramente o milagre que hoje esperamos é outro — e, creia, está em nossas mãos. É a eleição de governantes sérios e honestos, capazes de, com dedicação e trabalho, transformar esse País numa Nação contemporânea, onde o primeiro e único mandamento seja o respeito ao homem e à justiça social. Será que estamos à altura dessa grande benção?