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A noitada (3)

Não sei se alguns de vocês já ouviram a voz da razão. Ou se, por vias das dúvidas, colocaram a mão na consciência. Não sei.

Àquela época, em que era jovem e inconseqüente, talvez imaginasse que essas expressões populares fossem apenas invencionices de Dona Yolanda, minha mãe, que vivia a repeti-las aos meus ouvidos – até porque, como disse, eu era jovem e inconseqüente.

Não que lhe desse grandes motivos. Me considero até hoje um cara pacato, comedido até; pois, como disse nos posts anteriores, só tomo Coca Light. Nem de cerveja eu gosto.

Enfim…

Sei lá por qual motivo, sei que ponderava sobre a “voz da razão” e a “mão na consciência” quando entrei no meu carro pronto a escapar da próxima “paradinha” que o Nasci anunciara.

Qual o quê?

Quando dei por mim o velho Del Rey estava tomado por três marmanjos. O Nasci, óbvio, no posto de co-piloto a redesenhar nossa rota:

— Mudança de planos. A essa hora, no Bixiga só tem bêbados. Vamos para o Riviera.

Não conhecia. Fiquei conhecendo naquela noite o bar que existia (será que ainda existe?) na avenida Consolação esquina com a avenida Paulista, do outro lado da calçada dos cines Belas Artes. Soube também que o estabelecimento de longa fama na boemia paulistana não fechava e me preparei para a longa jornada noite adentro.

Vou ser sincero.

Não posso lhes contar muita coisa do que aconteceu ali. Pela enésima vez, Nasci contava dos tempos em que perdeu um concurso para protagonista de uma novela de rádio. Ficaram à frente dele dois ‘canastrões’ que atendiam pelos nomes de Tarcísio Meira e Francisco Cuoco. Foi nesse ponto que adormeci após recostar a cadeira à parede. Só acordei dia claro com os amigos rindo a valer.

Pensei que debochavam do meu sono fora de hora e lugar.

Mas, eles me contaram o motivo das sonoras gargalhadas.

Minutos depois que chegamos, um senhor se aproximou da turma e se pôs a ouvir as histórias do Nasci. Fazia cara de interessado. Ofereceu uma rodada de cerveja para a turma, outra e mais outra. Só aí teve coragem de dizer o motivo de tanta cortesia. Estava varado de vontade de fumar. Não havia mais cigarros para vender no bar. Só restava a nossa mesa e ele se aproximou. Percebeu que o Nasci tinha um isqueiro que girava entre os dedos enquanto falava.

Era o sinal.

Depois de se enturmar a troco sabemos do quê, fez a pergunta:

— O amigo aí tem um cigarro para me oferecer?

O Nasci, naquele seu inimitável estilo, respondeu:

— Ih, rapaz, vou ficar lhe devendo. Só fumo cachimbo…

E mostrou o cachimbo holandês que a turma do jornal lhe deu num final de ano.

Era dia claro quando saímos do bar, onde nunca mais voltei.

[Texto publicado no livro "Meus Caros Amigos – Crônicas sobre jornalistas, boêmios e paixões"]