25 de agosto de 1961.
O pai chegou para almoçar decidido a não voltar para o trabalho. Teria que fazer um acerto de contas com o tio Nandinho. Ambos deveriam tomar as medidas cabíveis à situação. O rádio trouxera, minutos antes, a notícia bombástica:
“Precisamos estar preparados. Vai haver revolução”.
Tchinim nunca havia sequer ouvido a palavra “revolução”. Mas, logo entendeu que coisa boa não deveria ser.
O presidente Jânio Quadros acabara de renunciar à Presidência da República.
O temor de todos era o iminente levante popular a começar por São Paulo, base eleitoral de Jânio.
O pai era adhemarista convicto. Para ele, o Brasil precisava de um gerentão que promovesse uma faxina geral – ironia das ironias com a expressão ainda hoje tão em voga no cenário político nacional. Adhemar de Barros era o homem.
Pelas acaloradas discussões com o tio Nandinho (ferrenho janista), imaginou o tamanho da encrenca que o esperava.
A costureira Dona Ada, amiga da família, veio logo com outra novidade: tanques do Exército circulavam preventivamente pelos arredores do Largo do Cambuci e das ruas Lavapés e Independência.
Juro que não achei a notícia ruim de todo, não.
Com os militares por perto, talvez o pai e o tio não partissem para o tudo ou nada que o menino já prenunciara. Eram bons amigos, os cunhados só entravam em rota de colisão quando o assunto era a política. Aí se transformavam. Eram capazes de soltar as maiores barbaridades.
Não tardou, logo soube que o tio viria visitá-los.
Tremeu na base.
Por isso, sentiu-se aliviado quando viu a expressão de tranquilidade do pai ao receber o tio e a família do tio, de mala e cuia.
Abraçaram-se fraternalmente e logo se puseram a contar o dinheiro que cada um tinha no bolso. Juntaram as notas em um só maço, enroladas com elástico e foram ao empório do amigo Giuseppe comprar óleo, sal, açúcar, café, farinha, arroz, feijão – enfim, os mantimentos necessários para as famílias enfrentarem, juntas, sem sair de casa, a guerra civil (ou a revolução, como dizia o pai) que nunca aconteceu…