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Simancol

Dona Yolanda está indignada.

Com alguma razão.

Aos 86 anos, ela reclama da falta de “simancol” dos jornalistas – aliás, profissão do filho e do neto.

— O que tanto vocês anunciam que o 13º dos aposentados já está no banco?

Ela pergunta por perguntar – e não dá chance de resposta.

— Querem avisar os ladrões, é?

Tento explicar que, desde os anos 80, quando se consolidou a chamada era das mídias, há um predomínio de um gênero de jornalismo, voltado para os serviços – e que tem como proposta primordial orientar os diversos segmentos da sociedade.

A explicação parece não lhe interessar. Procura no dial do rádio uma emissora que lhe agrade. Diz que quase não vê TV porque há muita violência seja nas novelas, seja nos telejornais.

Mesmo nos programas de rádio, reclama que há muito blábláblá.

— Todo mundo entende de tudo e falam e falam e falam. Antes tocavam aquelas músicas bonitas, românticas.

A vida era tão difícil como hoje é, diz ela. Havia pobreza, mas não miséria. Nem todo mundo tinha telefone. As pessoas andavam de bonde – “e não se atrasavam tanto”.

— Uma questão de respeito, bom senso, sabe?

Dona Yolanda nem sempre é sutil em seus recados, como está sendo agora.

Começo a entender o teor da conversa: não perdoou meu atraso de ontem. Nem o fato de não ter ligado para ela.

Como mãe tem sempre razão, prometo reforçar minha dose diária de “simancol”, falar menos, ser mais pontual e pensar duas vezes antes de publicar qualquer notícia.